Desenhos à flor da pele

Desenhos à flor da pele

A editora Documenta, em parceria com a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, edita o álbum Desenhos à flor da pele, de Cau Gomez, o artista internacional convidado da 21.ª edição da Cartoon Xira, que está patente entre 3 de Outubro e 6 de Dezembro de 2020 no Celeiro da Patriarcal, em Vila Franca de Xira.

Clique nas imagens para as visualizar em toda a sua extensão:

Eis a sinopse da editora:

Creio que o chargista não pode e nem deve expressar as opiniões de qualquer patrão que seja, por mais global que seja… esse é o recado do desenho de Cau.

Luis Trimano

Tive contato com as charges de Cau Gomez pela primeira vez nas páginas do hoje extinto Jornal do Brasil, um veículo bem-comportado, que procurava sempre ou quase sempre amenizar a realidade brutal da «suciedade» carioca, publicando desenhos mais ou menos bem-comportados, pois a proposta do jornal sempre foi dar uma imagem «cordial» da «suciedade» carioca, favelada e desdentada… e, de repente, aconteceu Cau, com um desenho expressionista que, tal como fizemos nos maus bons tempos da censura ditatorial, se batia de frente com a «cordialidade» impositiva proposta pelo veículo nos seus desenhos de humor ácido. As personalidades políticas e seus comparsas apareciam de forma simiesca, realçando o ridículo e a brutalidade dos retratados. A primeira coisa que me ocorreu foi que não duraria muito no jornal. Dito e feito, pouco tempo depois desapareceu e nunca mais foi publicado. A gente que viveu e trabalhou muito mal nos tempos da ditadura já sabia que o destino de quem enfrentasse as feras da mídia comercial, mais tarde ou mais cedo, cairia em desgraça. […] Cau não «vendeu » seu desenho e continuou apostando na sua liberdade para expressar as suas opiniões, que é a única coisa que fica de um chargista, e se firmou como um dos desenhistas mais talentosos e bem posicionados da imprensa brasileira – hoje meio desfalcada mas, no fim das contas, o espelho do que nos toca viver no momento.

Luis Trimano

Cau Gomez é um dos mais notórios cartoonistas da sua geração no Brasil. Natural de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, iniciou a sua carreira como ilustrador e caricaturista aos 15 anos, no jornal Diário de Minas (DM), em 1988, num projeto editorial arrojado e revolucionário para os padrões gráficos e editoriais da época. Trabalhou e adquiriu experiência no ambiente frenético da redação, que tinha na coordenação dois visionários jornalistas: Sulamita Esteliam e Sebastião Martins, que valorizavam a produção de conteúdo sempre acompanhada por muitas ilustrações ao longo das páginas nas edições diárias.

Desde criança já sabia que queria ser desenhista, inspirado na genialidade do mestre Ziraldo e, mais tarde, no talento dos irmãos Paulo e Chico Caruso, que o ajudaram a abrir portas, e permitiram que a sua arte ultrapassasse importantes fronteiras na grande imprensa brasileira.

Porém, movido pelo ímpeto de se descobrir e se aprimorar na profissão, ingressou, em 1991, no curso de Educação Artística da Escola Guignard – Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG). Foi neste período, aos 19 anos, que ele também se afirmou como artista plástico, sem se afastar da grande paixão pelas artes gráficas e, principalmente, pelo exercício diário de desenhar caricaturas.

Mas inquieto que sempre fora, perseguiu novas lições sobre o uso de texturas no desenho e afastou-se do formato convencional da escola académica de arte.

Criou laços intuitivos com o autodidatismo e orientou-se em pesquisas e na profunda admiração pelos trabalhos dos artistas gráficos: Hermegildo Sábat, Carlos Nine, Luis Trimano, Cássio Loredano, Mario Vale, Henfil, Angeli, Ralph Steadman, Robert Crumb e Brad Holland. E isso foi definitivo para causar um sobressalto criativo na sua abordagem artística.

Cau também domina várias técnicas nas artes plásticas e pintura, e é a meio dos estudos no uso das tintas que ele mais se realiza ao se reciclar nas obras dos grandes mestres e pintores que ele mais admira: Rubens, Goya, Rembrandt, Picasso, Magritte, Toulouse-Lautrec, George Grosz, Candido Portinari, Anita Malfatti e Jean-Michel Basquiat.

Desde 1993, Cau adotou Salvador, a capital da Bahia, para viver e trabalhar em estúdio próprio nas suas produções. Colaborou por mais de três décadas nos importantes veículos impressos de comunicação do Brasil, tendo publicado os seus trabalhos em destacados jornais e revistas: O Estado de São Paulo (Estadão), Jornal do Brasil, Hoje em Dia, Cometa Itabirano, Pasquim 21, Playboy, Palavra, Gráfica Magazine, Veja e Piauí. O impacto positivo dos seus trabalhos na imprensa baiana levaram-no a receber, no ano de 2009, na Câmara de Vereadores, o título de Cidadão Honorário da Cidade de Salvador, em reconhecimento da sua atuação no jornalismo baiano, principalmente através dos desenhos de humor político publicados diariamente nas páginas de opinião editorial, no jornal A Tarde por dezasseis anos.

Em 2020, ele completa 32 anos de carreira e, no seu currículo, possui mais de sessenta grandes prémios nacionais e internacionais, além de inúmeras menções honrosas.

Participou em várias exposições e júris, incluindo a curadoria do 8º RIDEP (Rencontres Internationales du Dessin de Presse) – França, em 2007.

Ministrou oficinas, workshops e palestras em países como Colômbia, Cuba, França e Portugal.

O seu talento é reconhecido internacionalmente, e, a cada dia, o artista tem vindo a surpreender em diversas áreas do humor gráfico, com propostas novas de cartoons, caricaturas, charges, ilustrações, pinturas em telas e painéis, banda desenhada, animação, desenhos, criação de marcas e projetos gráficos, entre outras.

Atualmente, é freelancer e publica regularmente nos jornais: A Tarde, em Salvador; Le Monde Diplomatique-Brasil, em São Paulo; e Courrier International, em Paris. Entre os livros que ilustrou, destacam-se: o álbum de banda desenhada/HQ Billy Jackson (2013), pela RV Cultura e Arte Editora; O Dia em que os Gatos Aprenderam a Tocar Jazz (2012); Dias de Tempestade (2013); e E Eu, Só uma Pedra (2016) – todos pela Companhia Editora de Pernambuco (CEPE). No final de 2019, concluiu as ilustrações para o livro infantojuvenil ATchim!, da mesma editora.

É também coautor e ilustrador do livro Pastinha, o Menino que Virou Mestre de Capoeira – único livro baiano infantojuvenil a ser finalista do Prémio Jabuti, em 2012, publicado pela Solisluna Editora.

Desenhos à flor da pele
Cau Gomez
Editora: Documenta
Formato: 17 x 24 cm
Páginas: 128
Preço: €15,00

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