
Seth é finalmente publicado em livro no nosso país.
A história da edição de BD estrangeira em Portugal tem uma das características próprias dos pequenos mercados. Privilegiam-se frequentemente personagens, séries, marcas e tendências com as quais se presume ter um rápido retorno do investimento editorial realizado e, frequentemente, qualquer listagem de obras e autores de referência encontra frequentemente ausências profundas no panorama nacional.
Se existem duas editoras no continente da América do Norte que muito têm contribuído com qualidade para a popularização das graphic novels – ou melhor, visto tal ser um termo oco que significa o que qualquer editora ou marketing deseje, dos livros de banda desenhada – são a canadiana Drawn & Quarterly e a norte-americana Fantagraphics.
No entanto, apesar da sua importância, Portugal permanece, de uma forma geral, alheio ao catálogo das mesmas, sendo raras as exceções. Mesmo as editoras nacionais que se afastam da BD de super-heróis e outros produtos similares dos comics mainstream, muito raramente realizam incursões no catálogo daquelas editoras.
Ou, se o fazem, não é frequentemente no tipo de obra a que nos estamos a referir. Por exemplo, a Afrontamento realizou a edição dos primeiros 6 volumes da série mainstream Peanuts – Obra Completa de Charles M. Schulz (infelizmente, não prosseguindo a série no nosso país) em volumes idênticos às cuidadas edições da série homónima da Fantagraphics. A razão da referência a estas publicações não é um acaso. Nos EUA, a série recebeu em 2005 o Prémio Eisner de Melhor Design e o Prémio Harvey de Excelência em Apresentação. Quem foi galardoado com tais prémios? Seth.
Não deixa de ser curioso que o trabalho de Seth (pseudónimo literário do canadiano Gregory Gallant) em livro que tenha sido primeiro publicado no nosso país, seja aquele no qual exerceu a função de designer e não de autor de banda desenhada. Mas assim são os constrangimentos de pequenos mercados de banda desenhada.
O trabalho escolhido para apresentar o autor Seth em livro aos leitores portugueses é editado este mês pela Levoir. A Vida é Bela, se Não Desistires é, também, o primeiro trabalho publicado em livro por Seth. No entanto, apesar de ter sido editado em livro em 1996 pela editora Drawn & Quarterly, o trabalho já tinha sido previamente publicado pela mesma editora de forma seriada, entre dezembro de 1993 e junho de 1996 na revista Palookaville #4-9, uma série da autoria do próprio Seth.
A compilação em livro permitiu que se gerasse uma maior atenção sobre o seu trabalho, tendo sido galardoado em 1997 com dois prémios Ignatz, nomeadamente para Melhor Artista e Melhor Graphic Novel ou Compilação em Livro em 1997.
Clique nas imagens para as visualizar em toda a sua extensão:
Eis a sinopse da editora:
Um dos nomes mais prestigiados da editora Drawn & Quarterly e um dos maiores representantes do comic alternativo americano, o canadiano Seth foi o primeiro autor de BD a ganhar o prémio literário de Harbourfront Festival. A sua estreia em livro em Portugal acontece na colecção Novela Gráfica com A Vida É Bela, se Não Desistires. Uma ficção com toques autobiográficos, que é, simultaneamente, uma reflexão sobre a nostalgia, tendo como mote a busca obsessiva pelo trabalho de um artista obscuro dos anos 40.
Enquanto procura compreender a sua desilusão com o presente, Seth descobre a vida e obra de Kalo, um cartoonista da revista The New Yorker durante a década de 40. Mas essa obsessão com uma figura do passado vai esquecer com que esqueça as necessidades da mulher que o ama e o desespero silencioso da sua família.
A Vida É Bela, se Não Desistires
Seth
Editora: Levoir
Páginas: 192, a 2 cores
Encadernação: capa dura
Dimensões: 150 mm x 227 mm
ISBN: 9789896828714
PVP: 10,90€

Fundador e administrador do site, com formação em banda desenhada. Consultor editorial freelance e autor de livros e artigos em diferentes publicações.
Concordo em pleno no que foi escrito acima. Adiciono no entanto, que se perdeu uma oportunidade para apresentar condignamente o autor aos leitores de bd. Não deixa de ser irónico que Seth, tendo estado em Portugal no extinto evento do salão de bd do Porto juntamente com uma embaixada da Drawn & Quaterly em 1996, só agora veja uma obra sua publicada. E infelizmente a Levoir fez um desfavor ao leitor com uma péssima escolha de legendagem, que torna quase impossível a sua leitura.
Estava recioso do papel em que iria ser impresso, visto que é uma parte integral do “mood” desta. Junta-se a isto o tamanho de letra da legendagem, e há razão para tornar esta obra menos apetecível.
Lamentável.