
Leitura de Os Regressos de Pedro Moura e Marta Teives.
Li Os Regressos de Pedro Moura e Marta Teives. Não foi fácil para mim. Não quero contar a história mas fala de doença mental. Têm-me calhado na rifa estes assuntos nada fáceis e pensei passar à frente este livro; não escrever sobre ele contudo seria algo “covardolas” e triste. Passei o fim de semana com o livro na mão a pensar no que iria escrever e dei por mim a desenhar mikises, eheh. Acreditem, não é fácil falar sobre doenças. A mental requer algum jogo de cintura porque existe ainda estigma. Como se fosse escolha ou algo de “azaralhado” da existência, algo trôpego e burro. Não estou a ser dura. Estou também a ser realista. O estigma está presente em cada um de nós. Bem lá no fundo, existe a vergonha. A protagonista de Os Regressos foi considerada “maluca” e volta a “casa” (o que, por si só, para mim, é extremamente triste e doloroso e penso que aqui reside a chave da história, no seu regresso).
Agora a questão é:
O porquê de o título estar no plural? A pluralidade.
Ironicamente, ela voltou ao local do “crime” e foi assim “apanhada”. Numa árvore, a frase esculpida: “Nunca regresses ao local onde já foste feliz”. Existem vários regressos neste livro. O real e um outro ao nível do fantástico.
A fronteira que os limita. A fronteira do real. O outro lado do “espelho”.
E crescemos (alguns eheh) com a “Alice no país das maravilhas”; e mais tarde, descobrem-se coisas duras, como a esquizofrenia. Ensinaram-nos e muito bem a Imaginar, a sonhar, a pensar.
Bom, o que separa a doença da imaginação? Um médico saberia responder…
Contudo, o essencial é a pessoa descobrir.
E para isso terá de regressar?
Está tudo na nossa cabeça. A luz e a sombra. Na doença e na saúde. Mas isso são balelas para a natureza. É o que é. Ou estarei a ser demasiado dura?
Ah, a medicação! Os autores referem alguns medicamentos e sabe-se ser coisa antiga. De infância. Meu deus, infância! Revolta um bocado. Mas que sei eu?
E lê-se no início (sim, “full circule, isn’t it?”)
Venham até à beira.
– Guillaume Apollinaire
Não podemos, temos medo.
Venham até à beira.
Não podemos, vamos cair.
E eles foram.
E ele empurrou-os.
E eles voaram.
A nossa imaginação vê o voo (em queda). A natureza humana dita a queda.
Bom livro de estudo.
Os Regressos
Pedro Moura, Marta Teives
Editora: Polvo
Páginas: 64, preto e branco
Encadernação: capa dura
Dimensões: 180 x 245 mm
Data: maio de 2018
ISBN: 9789898513885
PVP: 10,90€

Costumava desenhar de joelhos, com os braços em cima da cama quando era pequenita e mais tarde numa mesa de escola. Os joelhos agradeceram. Cresci com banda desenhada e criei o fanzine “durtykat” em 2001. Viajei quase à pala e fui colaborando e comunicando através de desenhos, nascendo assim as Nits, em 2014. Voltei a desenhar de joelhos mas eles não se têm queixado. A última exposição foi na Galeria Mundo Fantasma, no Porto, no ano de 2019.