
Quântica Mãe.
Maunder, de Paula Puiupo, é bonito, muito bonito. Não sei se já repararam mas só escolho livros que gosto e principalmente porque são belos.
Paula fala da mãe e de uma doença do coração, ao qual geneticamente conseguiu escapar de uma forma lírica e gráfica ao mesmo tempo. A sua sequência é irreversível e as ilustrações podem não estar “chapadas” ao texto mas a liberdade ajuda-nos a criar poesia e, através do desenho, expressar uma linha de compreensão. Penso eu: Bonita. Compreendo. Logo gosto e acho: Belo!
Pura química? Ou será física? Quântica? Paula “viaja” ao “encontrar” a mãe, através da sua imaginação entre espaço-tempo e várias dimensões. Uma forma de conexão. Tudo se junta, diz. Até a individualidade.
O que nos mete medo, o que cria os nossos limites e, por instância, a personalidade, esvai-se em evolução e aceitação. Deixam de controlar. Vá, viajemos então. Transformação mas toda essa liberdade envolve também A escuridão, possível desaparecimento pós-instabilidade; todavia, como ela diz:
“Não é assim tão mau pois não?”
Sem medo e em liberdade olha para cima
O universo e a nossa Mãe
A criação
Matematicamente falando, morremos. Mas será o fim?
(Tenho medo do desaparecimento da minha mãe, da sua decadência, do abandono e este livro tocou-me porque como qualquer ser humano também tenho remorsos por não estar perto, a corresponder às suas expectativas e depois de reler este livro, vejo que a vulnerabilidade protege-nos. Estará tudo a ser reescrito? Lido? E, acima de tudo, Compreendido?)
Como Paula, espero Compreender
e claro, aceitar
(não significa resignar mas amar)
Será o cosmos “algo” fechado?
Penso que Paula, na sua ilustração e perto do fim, fala da caixa de pandora e das suas várias e múltiplas interpretações. Diverge um pouco de mim, não sei se estamos fechados neste espaço-tempo múltiplo mas os cientistas lá o sabem.
Para mim, isto é demasiado belo e em branco (ou aberto).
Clique nas imagens para as visualizar em toda a sua extensão:
Eis a sinopse da editora:
Is it possible for us to travel between dimensions? Maybe not with our bodies, but within our mental states. A dismembered family makes its youngest reveal the mystery.

Paula Puiupo (pseudónimo de Paula Almeida) é uma portuguesa emigrada para a cidade de São Paulo, no Brasil, onde se formou em animação no Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), em 2017.
O seu trabalho articula a ilustração, banda desenhada, design e animação.
Tem bandas desenhadas suas publicadas em antologias, revistas e livros de BD publicados em Portugal, Brasil, Argentina, Polónia, EUA, Canadá, Reino Unido e Letónia, entre outros.
Participou em exposições em diferentes países, teve destaque em revistas de moda e colaborou com festivais de banda desenhada. Trabalha como animadora e ilustradora freelance.
Maunder
Paula Puiupo
Série: mini kuš! #76
Editora: Grafiskie stãsti, kushkomikss (Letónia)
Apoio: Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, Portugal
Data: abril de 2019
Páginas: 28, a cores
Encadernação: agrafes
Dimensões: A6
ISBN: 978-9934-581-09-0
PVP: 7,00€

Costumava desenhar de joelhos, com os braços em cima da cama quando era pequenita e mais tarde numa mesa de escola. Os joelhos agradeceram. Cresci com banda desenhada e criei o fanzine “durtykat” em 2001. Viajei quase à pala e fui colaborando e comunicando através de desenhos, nascendo assim as Nits, em 2014. Voltei a desenhar de joelhos mas eles não se têm queixado. A última exposição foi na Galeria Mundo Fantasma, no Porto, no ano de 2019.