O que é uma ideia? (Ninguém disse que era fácil)
Hei, Big Bang! (Ninguém disse que era fácil) de Isabel Minhós Martins e Bernardo P. Carvalho foi editado em 2019 pela editora Planeta Tangerina, editora da qual os dois autores são co-fundadores.
Segundo a Isabel Minhós Martins, “para mim, escrever é como cavar: encontramos sempre alguma coisa, às vezes minhocas, às vezes água, pedras, raízes, túneis… Um sapato perdido. Gosto de escrever porque quase sempre encontro coisas inesperadas. Gosto de ler pela mesma razão: alguém escavou, escavou, escavou e encontrou alguma coisa que veio mostrar através das palavras.”
Quanto ao ilustrador deste livro, Bernardo P. Carvalho venceu o 24.º Prémio Nacional de Ilustração com este livro. É a segunda vez que Bernardo P. Carvalho conquista este Prémio, depois de ter sido distinguido em 2009 com Depressa, devagar, também de Isabel Minhós Martins.
Em Hei, Big Bang! (Ninguém disse que era fácil), o protagonista é um cavalo, o Big Bang, que um dia acorda ansiosamente sobressaltado e cheio de perguntas, com algo no pensamento, que “esvoaçava como uma borboleta, como um grão de pó inquieto, como o princípio de uma canção”, lê-se nas primeiras páginas. Big Bang sente que, em cada uma das suas quatro patas, algo está para acontecer , “mas como procurar quando não se sabe o que se procura?”- é assim que se abre a janela deste “Hei, Big Bang! (Ninguém disse que era fácil)”, onde o azul do céu toma conta das páginas, trazendo com ele uma série de outras cores.
Neste livro produzido por esta dupla de autores, as sensações vividas pelo cavalo vão desde sentir uma borboleta dentro das orelhas, batendo as asas, a ter palavras debaixo da língua, que tentam a todo o custo equilibrar-se e não saem, metaforizando uma ideia.
Mas o que é uma ideia? Esta é a questão fulcral que vai dar voltas à cabeça de Big Bang.
No início aparecem-nos como uma sombra e, entretanto, escorregam-nos das mãos. Contudo, se as deixamos correr livremente – imaginando um cavalo correndo pela praia afora – pode ser que as consigamos ver com nitidez.
As ideias gostam de brincar às escondidas. Porém, não são invisíveis, mas podem ser difíceis de ver e sentir! Esta é a história do cavalo Big Bang e de uma coisa intrigante que o persegue.
Como acontece, por vezes, com as pessoas, toda a gente lhe vai gritando para ir trabalhar, para responder às mensagens, para pensar numa ida à praia, para não se esquecer de levar comida, mas a única resposta que lhe ocorre, no meio de tantas dúvidas, incertezas, inquietações ou mesmos estímulos, parece ser: “Eu já não sei coisa nenhuma”.
Um livro “a quatro patas”, que mostra que nem sempre as coisas são fáceis, convidando a conhecer, nas entrelinhas, as partidas da própria memória, a importância do silêncio, a necessidade de espaço pessoal e o poder de transformação que cada um guarda dentro de si.
Contudo, não é comum que os textos dos livros do Planeta Tangerina tenham como protagonista um animal. Apesar da narrativa seguir um aparente caminho linear, com apontamentos mais tradicionais, quando se inicia, logo surgem perguntas sem resposta e posteriormente umas rimas dispersas, um refrão com variações que marca o ritmo e ainda os típicos trocadilhos característicos da escrita de Isabel Minhós Martins. Ou seja, a surpresa das primeiras páginas de texto dão lugar a muitas outras surpresas.
As palavras de Minhós caminham harmoniosamente com as vibrantes ilustrações de Bernardo Carvalho, onde sentimos vontade de galopar o livro num só fôlego. Num registo a que o ilustrador já nos habituou, cada página assemelha-se a um inexplicável vivaz e criativo arco-íris de cores que deslumbra pequenos e grandes leitores.
Por outro lado, o júri do Prémio Nacional de Ilustração sublinhou “a procura sistemática a que o autor vai sujeitando o seu trabalho, com resultados sempre surpreendentes e de elevada qualidade com o cuidado e sensível jogo de cores, incluindo a definição de brancos e pretos, assinalável na sua qualidade de discurso, proporcionam ritmo e uma rica intensidade narrativa”.
Abaixo partilho a curiosidade de algumas páginas do livro:
Eis a sinopse da editora:
As ideias gostam de jogar às escondidas. Não são invisíveis, mas podem ser difíceis de ver!
No início aparecem-nos como uma sombra e escorregam-nos das mãos. Mas se as deixamos correr livremente – como um cavalo corre pela praia fora – pode ser que as consigamos ver com nitidez.
Esta é a história do cavalo Big Bang e de uma coisa intrigante que o perseguia…
(Uma coisa? Mas qual coisa?)
Isabel Minhós Martins
Nasceu em Lisboa, em 1974, o ano da revolução do 25 de Abril. Quando era pequena queria ser jornalista, arqueóloga ou pediatra. Não foi nenhuma das três, mas gosta muito do que faz. Estudou na Faculdade de Belas Artes de Lisboa, trabalhou como criativa na área da comunicação para crianças e, mais tarde, com um grupo de amigos, fundou a editora Planeta Tangerina. Alguns dos livros que escreveu foram distinguidos por prémios ou instituições ligados ao livro para a infância: Catálogo White Ravens, Prémio Andersen, Banco del Libro, Sociedade Portuguesa de Autores (2015), Gustav-Heinemann Friedenspreis (2017), Deutscher Jugendliteraturpreis (2017). Muitos dos seus livros estão publicados noutros países (França, Brasil, Coreia, Reino Unido, Itália, Espanha, Holanda…).
Bernardo P. Carvalho
Aos 5 anos, ofereceram-lhe o disco do Jardim Jaleco e nunca mais voltou a ser o mesmo. Terá sido por essa altura que começou a subir à prateleira do pai para ler todos os livros de banda desenhada que encontrava. Aos 10 anos atropelou uma velhota quando ia lançado na sua bicicleta amarela e esta recordação, assim como os remorsos e a culpa, nunca mais o largaram. Aos 16 anos conheceu a Isabel e a Madalena que lhe deram a conhecer as vicissitudes de uma vida intelectual. Aos 17 anos, os testes psicotécnicos indicaram “92% ar livre”. Aos 19 anos, entrou para o Curso de Design de Comunicação da Faculdade de Belas Artes de Lisboa. A certa altura resolveu sair (os testes psicotécnicos tinham razão). Por essa altura fez o Curso de Desenho na Sociedade de Belas Artes.
Aos 22 anos entregava empadas em cafés numa carrinha. Quem o conheça não terá dificuldade em adivinhar a causa do despedimento (“esmagamento e furto de empadas” constava no processo). Foi assim que começou a sua carreira de desenhador.
Em 1999, fundou o Planeta Tangerina. Desde então ganhou vários prémios:
BolognaRagazzi Awards (Non-fiction, 2019 / Opera Prima, 2015); Gustav Heinemann Peace Prize (Germany, 2017); Menção Honrosa no “Best Book Design From All Over the World” da Leipzig Foundation; “Melhor álbum ilustrado” no Deutscher Jungendliteraturpreis (2017), “Melhor Livro Editado” no CJ Picture Book Festival da Coreia; Prémio Nacional de Ilustração 2009; “Melhor Livro” Banco del Libro (Venezuela); Nomeação para a Lista de Honra do IBBY.
Os seus livros estão publicados em mais de 25 países.
Hei, Big Bang! (Ninguém disse que era fácil)
Isabel Minhós Martins, Bernardo P. Carvalho
Editora: Planeta Tangerina (2019)
Páginas: 48, a cores
Encadernação: capa dura
Dimensões: 22 x 26 cm
ISBN:9789898145956
PVP: 13,90€
Gosta de ler. É apaixonada pela luz, cor e movimento, tanto na ilustração como na expressão de movimentos em criar efeitos visuais na animação e vídeo. A ilustração é a fuga das suas ideias, assim como é respirar.