
Ana Margarida Matos é a vencedora do 8.º concurso “Toma Lá 500 Paus e Faz uma BD!”
Os cinco membros do Júri da 8.ª edição do concurso interno da Chili Com Carne Toma lá 500 paus e faz uma BD, Dois Vês, Mosi, Jucifer, Rodolfo Mariano e Rudolfo, decidiram por maioria, entre as dezasseie propostas apresentadas, qual o projeto vencedor – Undoing Home Repairs (título provisório), de Ana Margarida Matos. Trata-se de um livro de cerca de 200 páginas, planeado agora para ser editado este ano na Colecção CCC da associação.
Clique nas imagens do projeto para as visualizar em toda a sua extensão:
Eis a sinopse do projeto pelo sua autora:
Undoing home repairs é um projeto autobiográfico que acompanha o período de 16/01 a meados de Setembro de 2021, em que me apercebi que estava fechada em casa há quase um ano devido à presente pandemia. Não tendo rotinas dei conta que tinha disponibilidade mental para fazer tudo o que me apetecesse. Senti-me completamente assoberbada, pela positiva, e sem me aperceber passou um ano. Um ano em que não parei para pensar duas vezes, um ano de projetos acabados, um ano onde o que faltou foi mais tempo. Deparada com o aumento dos números e com um novo confinamento decidi começar a escrever, no mínimo cinco linhas por dia, para não voltar a perder a noção do tempo. Cada página deste projeto corresponde a um dia onde procuro explorar os limites da identidade pessoal, ou a falta deles, através das rotinas domésticas num contexto de confinamento, das recorrentes crises existenciais, do que se passa na sociedade, e de tudo aquilo que eu acho que me torna quem sou. Tudo aquilo que me move. Para além destas cinco linhas o que compõem as páginas não são representações do que aconteceu durante o dia, pois desta forma todas as páginas seriam similares senão iguais. São antes representações de coisas simples como o desmontar de uma máquina fotográfica, lembranças e/ou memórias, conversas do passado ou emoções do presente. A realidade é apenas uma ilusão, muito persistente. Anteriormente via-me nos outros e nos sítios onde nos cruzávamos, nas rotinas que partilhávamos e nas coisas que dizia não serem minhas. Mas passado um ano em casa, com o mínimo de interação com o mundo exterior, quem sou eu?
Eis algumas citações do júri sobre a obra:
- “É uma proposta muito interessante porque mistura bem a linguagem gráfica com o texto, sem que uma coisa se sobreponha à outra, sem que um seja uma repetição (uma ilustração do outro). Grande parte da informação, da mensagem, do sentido, vem do que não se vê e não se lê.”
- “A sua sensibilidade é inspiradora, de uma humanidade e compaixão enormes, escrita super cuidada, discurso lúcido, desenho apurado, traço maravilhoso, uma combinação perfeita com o texto assertivo.”
- “A apresentação da proposta enquanto uma documentação sóbria dos dias está muito bem conseguida, é uma história que nos toca e que documenta também as nossas emoções e ansiedade para além do carácter autobiográfico e idiossincrasias da autora. Projecto super consistente. Admiro a capacidade de sintetizar a era covid 19 de um ponto de vista terreno, mundano e trivial, eu por exemplo não fui capaz de o fazer e pese embora também documentar os meus dias com entradas semelhantes fujo a sete pés de o desenhar ou desenvolver, sou uma ilha deserta, quero é perder-me noutros universos e esquecer a realidade. Sinto que me identifico imenso com a maneira como a autora se expressa e adorava ter este livro para me recordar um dia no futuro sobre o que foram estes dias, sintonizar-me com o que pude salvar e vingar-me da minha incapacidade de desenhar estes anos de crise tão cheios de ruído, há artistas que nos dão voz e abrem portas e janelas dentro da nossa cabeça, sinto isso aqui“.
Ana Margarida Matos nasceu em 1999 e é estudante de Pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Ex-praticante de Design Gráfico. Artista casual de banda desenhada com o livro de autor Passe Social (Erva Daninha Press, 2019) e participação na antologia Querosene (Chili Com Carne, no prelo). Ex-atleta profissional de Triatlo com maior atividade entre a Margem Sul e Lisboa.
A Associação Chili Com Carne relembra que há mais de cinco anos que as quotas anuais dos sócios tem como objetivo financiar este concurso. Esta iniciativa tem ainda o apoio do IPDJ – Instituto Português do Desporto e Juventude.
Graças a este concurso já foram publicados sete livros: O Cuidado dos Pássaros / The Care of Birds (vencedor de 2013) de Francisco Sousa Lobo, Askar, O General de Dileydi Florez, O Subtraído à Vista de Filipe Felizardo, Acedia (vencedor de 2015) de André Coelho, Nódoa Negra (vencedor de 2018) de várias autoras, All Watched Over by Machines of Loving Grace (vencedor de 2019) de vários autores e Bottoms Up de Rodolfo Mariano (vencedor de 2020).

Fundador e administrador do site, com formação em banda desenhada. Consultor editorial freelance e autor de livros e artigos em diferentes publicações.