Opikanoba.
No dia 29 de abril, prossegue a publicação da adaptação muito livre, realizada pelo francês Régis Loisel, do universo criado pelo romancista escocês J. M. Barrie (1860-1937) em Peter Pan, com o segundo volume da coleção de banda desenhada resultante da parceria ASA/Público.
Opikanoba, o 2.º livro da série, foi editado originalmente na coleção Grand Format da editora Vents d’Ouest, em setembro de 1992. Em Portugal, este álbum tinha sido publicado pela Bertrand em fevereiro de 1994, sendo agora reeditado, 27 anos mais tarde.
Clique nas imagens para as visualizar em toda a sua extensão:
Eis a sinopse da editora:
Com a ajuda de Sininho e do seu pó de fada, Peter troca a sua Londres natal pelo país imaginário. Todavia, por um erro de cálculo, vai parar à cabina do capitão de um barco de piratas, ancorado numa enseada junto a uma ilha paradisíaca.
Obrigado a explicar a sua presença a bordo, Peter conta à tripulação que veio de Londres a voar, o que naturalmente deixa os piratas desconfiados. Não conseguindo fazer valer a sua história, Peter é atirado borda fora para servir de alimento a um crocodilo que há já várias semanas ronda insistentemente o barco. Sem outra alternativa, Sininho lança-se em socorro de Peter, acabando assim por provar que este consegue voar.
O Capitão propõe então a Peter que se torne pirata, o que vai manifestamente contra a missão de Sininho, enviada pelo povo da ilha para encontrar um salvador. Este povo é composto por diversas 3 criaturas mitológicas, entre as quais sereias, centauros e duendes. Pan, o seu chefe, explica a Peter que foi escolhido pelos seus pares para os ajudar a protegerem o seu tesouro do capitão.
Os nossos heróis terão de enfrentar terríveis desafios, o primeiro dos quais particularmente aterrorizador: Opikanoba, uma região deserta e nebulosa onde cada um se defronta com os seus próprios medos e é levado a agir segundo os seus instintos mais brutais…
Régis Loisel, galardoado com o Grande Prémio Angoulême 2003, é um autor cimeiro no panorama da banda desenhada contemporânea. Nascido em 1951 em Saint-Maixent (França), instala-se em Paris em 1972 e é aí que tudo começa. Durante os anos que se seguirão vai encontrar Patrick Cothias e Serge Le Tendre, vai reinventar o mundo nas esplanadas dos cafés, vive uma vida boémia. Os projetos vão aparecendo e uns são concluídos, outros não; nada disso tem importância.
Em 1983, a publicação de Em Busca do Pássaro do Tempo (no original La Quête de l’Oiseau du Temps, com argumento de Le Tendre) marca um ponto de viragem no seu percurso. Tanto a nível pessoal como criativo, Loisel parece ter-se encontrado. A verdade é que esta série é hoje considerada como a série de referência no seu género, tendo sido muitas vezes imitada mas nunca até agora igualada – nenhum autor do género heroic fantasy conseguiu ainda libertar-se do peso do original. Em Busca do Pássaro do Tempo foi de resto apontada como a obra que marca a maturidade do autor, mas essa afirmação veio a revelar-se prematura.
Em 1989 Régis Loisel publica um álbum inquietante, justamente intitulado Troubles Fêtes. Pela primeira vez, liberta-se de todas e quaisquer restrições técnicas e ilustra textos eróticos. Os seus desenhos irradiam uma energia arrebatadora, uma sensualidade espantosa, com um traço que então se aproxima do expressionismo de Doré, Rhops ou Rackham. Nas suas próprias palavras: “Não é um álbum de banda desenhada propriamente dito mas, por apenas cinco desenhos, é a meu ver o melhor que alguma vez fiz.”
Nessa mesma altura abandona Paris e instala-se em Perros-Guirec. Chegou o momento de realizar a sua interpretação do mito de Peter Pan. Logo desde o primeiro álbum, Loisel impõe-se definitivamente como um autor incontornável, verdadeira figura de proa de um novo estilo “baseado nos sentimentos, na emoção”. O sucesso é considerável.
Após alguns anos passados na Bretanha, sente de novo a necessidade de mudança. Remete-se por isso a um parênteses de quase quatro anos, durante os quais vai trabalhar para os estúdios Disney, designadamente nos filmes Mulan e Atlântida. Faz também uma incursão pelo cinema desenhando uma parte do story-board do filme O Pequeno Polegar, concebe o videojogo Gift e experimenta o delicado jogo de colaboração com outros autores de banda desenhada.
Uma vez mais, sente o apelo da mudança. Trata-se de um autor que constrói a sua carreira de forma empírica, por instinto; a coerência do seu percurso lê-se na unidade dos seus anseios e das suas escolhas. Régis Loisel vive atualmente em Montreal (Canadá), onde criou com Tripp a série Armazém Central.
É em 2007 que sai o primeiro volume de Grand Mort, uma nova série fantástica, como sempre com um Loisel menos inocente do que à primeira vista poderia parecer. Loisel mantém-se como argumentista, acompanhado por Dijan, e confia o desenho a Vincent Mallié, que tomará também a seu cargo o desenho da continuação de Em Busca do Pássaro do Tempo. A série tem hoje 10 volumes publicados.
Em 2016, Régis Loisel concretiza um velho sonho, prestando uma homenagem tão íntima como respeitosa à personagem de Mickey Mouse através do soberbo Café Zombo.
Peter Pan vol. 2: Opikanoba
Régis Loisel
Editora: ASA
Páginas: 64, a cores
Encadernação: capa dura com plastificação brilhante; miolo cosido
Dimensões: 32 x 24 cm
ISBN: 9789892351018
PVP: 10,90€
Fundador e administrador do site, com formação em banda desenhada. Consultor editorial freelance e autor de livros e artigos em diferentes publicações.