Mãos Vermelhas.
No dia 27 de maio, prossegue a publicação da adaptação muito livre, realizada pelo francês Régis Loisel, do universo criado pelo romancista escocês J. M. Barrie (1860-1937) em Peter Pan, com o quarto volume da coleção de banda desenhada resultante da parceria ASA/Público.
Mãos Vermelhas, o 4.º livro da série (e o único cujo título não é composto por apenas uma palavra), foi editado originalmente na coleção Grand Format da editora Vents d’Ouest, em setembro de 1996. Em Portugal, este álbum tinha sido publicado pela BookTree em maio de 2002, sendo agora reeditado, 19 anos mais tarde. Registe-se que este álbum tinha sido o último da série publicado no nosso país, pelo que os dois últimos álbuns, distribuídos em junho, serão inéditos em Portugal.
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Eis a sinopse da editora:
No país imaginário, Peter tem as mãos sujas de sangue. O seu amigo Pan está gravemente ferido e Peter opera-o, na esperança de o salvar. Infelizmente o jovem sucumbe pouco depois, para grande desespero de Peter.
Após um longo período de distúrbios psicológicos, Peter conclui que o capitão é o único culpado da situação e decide vingar-se. Peter torna-se Peter Pan…
De regresso a Londres, Peter procura os seus companheiros e propõe-lhes que o acompanhem até ao país imaginário. Narigudo, Rose, Meia-leca, Porcalhote, Criqui… Todos aceitam.
Mas quem é esse vulto que, a coberto da noite e do nevoeiro, vagueia pelas ruas de Londres deixando atrás de si um rasto de vítimas degoladas? Será Jack, um sujeito no mínimo misterioso?
A primeira vítima chama-se Mary Ann Nichols…
Régis Loisel, galardoado com o Grande Prémio Angoulême 2003, é um autor cimeiro no panorama da banda desenhada contemporânea. Nascido em 1951 em Saint-Maixent (França), instala-se em Paris em 1972 e é aí que tudo começa. Durante os anos que se seguirão vai encontrar Patrick Cothias e Serge Le Tendre, vai reinventar o mundo nas esplanadas dos cafés, vive uma vida boémia. Os projetos vão aparecendo e uns são concluídos, outros não; nada disso tem importância.
Em 1983, a publicação de Em Busca do Pássaro do Tempo (no original La Quête de l’Oiseau du Temps, com argumento de Le Tendre) marca um ponto de viragem no seu percurso. Tanto a nível pessoal como criativo, Loisel parece ter-se encontrado. A verdade é que esta série é hoje considerada como a série de referência no seu género, tendo sido muitas vezes imitada mas nunca até agora igualada – nenhum autor do género heroic fantasy conseguiu ainda libertar-se do peso do original. Em Busca do Pássaro do Tempo foi de resto apontada como a obra que marca a maturidade do autor, mas essa afirmação veio a revelar-se prematura.
Em 1989 Régis Loisel publica um álbum inquietante, justamente intitulado Troubles Fêtes. Pela primeira vez, liberta-se de todas e quaisquer restrições técnicas e ilustra textos eróticos. Os seus desenhos irradiam uma energia arrebatadora, uma sensualidade espantosa, com um traço que então se aproxima do expressionismo de Doré, Rhops ou Rackham. Nas suas próprias palavras: “Não é um álbum de banda desenhada propriamente dito mas, por apenas cinco desenhos, é a meu ver o melhor que alguma vez fiz.”
Nessa mesma altura abandona Paris e instala-se em Perros-Guirec. Chegou o momento de realizar a sua interpretação do mito de Peter Pan. Logo desde o primeiro álbum, Loisel impõe-se definitivamente como um autor incontornável, verdadeira figura de proa de um novo estilo “baseado nos sentimentos, na emoção”. O sucesso é considerável.
Após alguns anos passados na Bretanha, sente de novo a necessidade de mudança. Remete-se por isso a um parênteses de quase quatro anos, durante os quais vai trabalhar para os estúdios Disney, designadamente nos filmes Mulan e Atlântida. Faz também uma incursão pelo cinema desenhando uma parte do story-board do filme O Pequeno Polegar, concebe o videojogo Gift e experimenta o delicado jogo de colaboração com outros autores de banda desenhada.
Uma vez mais, sente o apelo da mudança. Trata-se de um autor que constrói a sua carreira de forma empírica, por instinto; a coerência do seu percurso lê-se na unidade dos seus anseios e das suas escolhas. Régis Loisel vive atualmente em Montreal (Canadá), onde criou com Tripp a série Armazém Central.
É em 2007 que sai o primeiro volume de Grand Mort, uma nova série fantástica, como sempre com um Loisel menos inocente do que à primeira vista poderia parecer. Loisel mantém-se como argumentista, acompanhado por Dijan, e confia o desenho a Vincent Mallié, que tomará também a seu cargo o desenho da continuação de Em Busca do Pássaro do Tempo. A série tem hoje 10 volumes publicados.
Em 2016, Régis Loisel concretiza um velho sonho, prestando uma homenagem tão íntima como respeitosa à personagem de Mickey Mouse através do soberbo Café Zombo.
Peter Pan vol. 4: Mãos Vermelhas
Régis Loisel
Editora: ASA
Páginas: 64, a cores
Encadernação: capa dura com plastificação brilhante; miolo cosido
Dimensões: 32 x 24 cm
PVP: 10,90€
Fundador e administrador do site, com formação em banda desenhada. Consultor editorial freelance e autor de livros e artigos em diferentes publicações.