A Seita em 2022

A Seita em 2022

Os resultados de 2021 e o plano para 2022.

O volume anual de livros lançados pela cooperativa editorial A Seita tem aumentado ano após ano, bem como o seu número de projetos, tendo sido em 2021 a segunda editora que mais livros de BD publicou no nosso país. “Não foi surpresa, na medida em que observámos ao longo do ano que houve uma forte diminuição no número de lançamentos de duas das editoras que mais produziam anteriormente, a Levoir e a G. Floy, e na medida em que tínhamos muitos livros planeados, alguns dos quais, aliás, deslizaram para 2022“, afirma José de Freitas.

O ano de 2021

Quanto aos 3 livros mais vendidos entre os lançados em 2021, “sem grandes surpresas o nosso bestseller foi o novo Lucky Luke de Matthieu Bonhomme, Procura-se Lucky Luke, que vendeu mais de 2000 exemplares“, indica José de Freitas. “Se ressalvarmos que os outros livros anteriores de Lucky Luke que editámos venderam este ano mais de 800 exemplares, é claro que a nossa coleção Lucky Luke visto por … é um dos motores das nossas vendas“. Por outro lado, refere que “é perfeitamente óbvio que os álbuns do Matthieu Bonhomme são muito mais comerciais e atraem muito mais os leitores do que os outros. Na verdade, são muito mais «clássicos» como BD franco-belga, são menos «experimentais» e menos «pessoais» que os outros. Dito isto, os resultados das vendas são bons em todos, porque também não temos as mesmas expectativas quanto a todos os álbuns. Sabíamos que o Lucky Luke do Mawil ia vender menos, mas no geral, vendeu muito bem na mesma, mas organizámo-nos para fazer uma tiragem menor, por exemplo“.

O segundo livro que mais vendeu em 2021 foi o volume inaugural da coleção Nona Literatura, Drácula de Bram Stoke, de Georges Bess, com mais de 1000 exemplares vendidos“, afirma José de Freitas. “Já encomendámos uma segunda tiragem do livro, mais pequena, não tanto por estarmos com medo de ficar sem stock já – ainda deve durar uns poucos meses -, mas para garantir o preço de impressão e do papel comparativamente à primeira edição, dada a crise recente que se tem sentido na edição“.

Em terceiro lugar estarão mais ou menos ex aequo Os Olhos do Gato, de Moebius e Jodorowsky, e o primeiro volume de Tex, A Chicotada com cerca de 700 exemplares vendidos cada um“, remata José de Freitas.

Quanto à coleção dedica a Tex, questionámos se foi de encontro ao foi de encontro às expetativas da editora quanto ao retorno financeiro e se confirmaram se essa personagem vende muito mais que as restantes personagens bonellianas no nosso país. “Diria que vende mais, mas não tanto quanto pensávamos. O problema dos títulos da Bonelli são as condições que a editora faz para as licenças, que são relativamente mais onerosas do que o normal das outras editoras, e que fazem com que os títulos precisem de ter um retorno financeiro maior do que o normal para serem interessantes. As vendas em números absolutos não são más, especialmente as do Tex, mas o custo dessas vendas é maior“, explica José de Freitas.

No entanto, no que toca aos livros de 2021 mais vendidos, José de Freitas refere que “é importante frisar que temos alguns livros lançados mesmo em cima do final do ano, como A Fera ou o Jolly Jumper Já não Responde que estão com números próximos desses, e que só têm dois meses de vendas, ou seja, que provavelmente, com um período de vendas igual terão números bem mais altos que esses nossos terceiros“.

Questionado sobre se tinham achado arriscado a publicação de A Fera, dada a série ainda não ter prosseguido no mercado francófono, José de Freitas clarifica que “o risco de A Fera é o de ser um livro caríssimo de produzir, não de não ter ainda prosseguido em França. O segundo volume está muito avançado e tem lançamento previsto no primeiro trimestre de 2023. Aliás, o Frank Pé partilhou recentemente connosco uma prancha do livro já bastante do fim – à guisa de voto de Bom Ano! Mas o Marsupilami é uma personagem conhecida, mesmo que não seja um bestseller no mercado nacional, e a qualidade do álbum fala por si. Como sempre, tentámos enriquecer a nossa edição em relação à edição francesa e, desta vez, incluímos um pequeno dossier muito giro, feito pelo Frank Pé, sobre as suas pesquisas sobre a anatomia do Marsupilami. Nem sempre é possível acrescentar coisas aos álbuns“.

No que toca ao livro de 2021 que a editora acredita que deveria ter recebido mais atenção do público e crítica, José de Freitas diz que é indubitavelmente O Combate Quotidiano, de Manu Larcenet, “cujas vendas foram relativamente fracas, infelizmente, apesar de ser uma das maiores obras de um grande criador da banda desenhada francesa. Esperemos que com o lançamento, já em março ou abril, do segundo volume, que conclui a história, as vendas melhorem“.

A pandemia surgiu rapidamente na vida da cooperativa editorial, o que, como se verificou, não a impediu de crescer. Inquirido sobre o volume de negócio através dos canais online da editora, José Freitas afirma que “as nossas vendas online não são especialmente significativas. Por enquanto, representam ligeiramente menos de 5% da nossa faturação. O grande crescimento das vendas que observámos este ano foi no nosso cliente Wook, que passou de cerca de 10% das nossas vendas, para uns 15%, literalmente a par com as nossas vendas para bancas. Claro que o facto de termos produzido capas alternativas para eles para a coleção Nona Literatura ajudou imenso, e temos alguns planos de colaboração com a Wook durante este ano que creio que nos ajudarão a crescer neste canal mais um pouco“.

Quanto ao impacto n’ A Seita da realização dos festivais internacionais de BD de Beja e Amadora, José de Freitas afirma que “de maneira geral, podemos dizer que os festivais são um momento de realizar algum cash-flow, mas em termos de vendas por título, e com a ocasional exceção, não são tão significativos assim. São importantes na medida em que se escoa bastante stock e se faz tesouraria em pouco tempo, mas não têm um impacto muito grande na rentabilidade de títulos individuais – as melhores vendas andam normalmente pela centena de exemplares, sendo raros estes números, e geralmente apenas com a presença dos autores, o que representa um custo adicional no festival. Isto em títulos de que temos de imprimir 1200 a 1500 exemplares pode ser interessante, mas é raro e, com os custos acrescidos que temos, por vezes não tem impacto grande na rentabilidade do álbum em termos individuais. Isto para títulos estrangeiros. A coisa é diferente para os álbuns de autores portugueses, que têm nos festivais algumas das suas melhores vendas e a possibilidade de um contacto muito próximo com os seus fãs, bem como uma exposição que tende a gerar vendas, dado que se tratam de momentos do ano bedéfilo em que existe alguma predisposição para experimentar títulos de autores nacionais. De salientar que as vendas de álbuns portugueses não costumam ficar atrás das de álbuns estrangeiros em números absolutos, o que é bom, já que são livros de que costumamos imprimir um pouco menos, na casa dos 800 a 1000 exemplares“.

O plano editorial de 2022

Em 2022, esperamos publicar cerca de 30 livros, se considerarmos também a meia-dúzia que iremos coeditar com a Arte de Autor“, revela José de Freitas. “Isto presumindo que nos conseguimos organizar e planificar o nosso trabalho de maneira diferente, porque tem sido difícil gerir este volume de trabalho“.

Quanto a obras concretas, José de Freitas refere que “para este primeiro trimestre, iremos prosseguir com a coleção Tex, com dois álbuns que constituem um díptico – O Vingador e Justiça em Corpus Christi. Também a coleção Nona Literatura terá dois lançamentos, Macbeth: O Rei da Escócia” de Thomas Day e Guillaume Sorel, “e o Frankenstein de Georges Bess“.

Por outro lado, “iremos inaugurar também três séries de franco-belga – Thorgal regressa ao nosso país com O Eremita de Skellingar, da nova equipa criativa do herói“, afirma José de Freitas. “Lançaremos também o primeiro volume de duas séries – ambas de três volumes -, Nevada, misto de policial pulp e western ambientado nos anos 1920 no Oeste americano, e Nautilus, que nos transporta para a Ásia em 1899 e para a grande rivalidade entre os impérios Britânico e Russo, onde reencontraremos alguém chamado Kim… E outra personagem chamada… Nemo“.

Um dos livros anunciados para 2022 é Santa Família, dos espanhóis Eider Rodríguez e Julen Ribas coimpresso com a Grafito Editorial. Outras novidades são “dois livros dentro das «homenagens», o Blueberry de Sfar e Blain, Amargura Apache, e o Lucky Luke de Ralf König, Os Choco-boys“, informa José de Freitas. “A acompanhá-los teremos um dos grandes lançamentos de BD francesa dos últimos anos, Pele de Homem, de Hubert e Zanzin, e claro, o segundo volume de O Combate Quotidiano, de Manu Larcenet“.

Quanto à parceria com a Arte de Autor, José de Freitas confirma que “é bastante sólida e continuará certamente em 2022“. Para além da conclusão de O Combate Quotidiano, será coeditado “mais um volume da autoria de Jorge Miguel, desta feita uma reedição do seu Fado Ilustrado. Vamos aproveitar a «boleia» de uma edição polaca da Timof Comics, com quem vamos coimprimir o livro. Mas temos mais meia-dúzia de livros na calha que iremos em breve anunciar, alguns deles com grande «impacto»“.

Quanto a outras edições de autores portugueses, José de Freitas afirma que “temos uma dúzia de livros previstos em 2022. Talvez mais… Espalhados por vários dos nossos selos, incluindo a Comic Heart, a Turbina e a Bicho Carpinteiro. Desde álbuns de relativos «estreantes» até álbuns de autores já bem consagrados“.

Alguns dos novos projetos já divulgados são Quero Voar da algarvia Kachisou (cujo álbum anterior, Weak, tinha tido direito a duas nomeações – Melhor Publicação Nacional com Distribuição Alternativa e Melhor Ilustração em Publicação Nacional nos Prémios Bandas Desenhadas 2020), O Bestiário de Isa de Joana Afonso, o O (in)Feliz Pacto de George Walden de André Morgado e Rodolfo Oliveira (primeira edição da Bicho Carpinteiro via A Seita), a biografia de Adriano Correia de Oliveira O Perigoso Pacifista de João Mascarenhas e Paulo Vaz de Carvalho (em colaboração com A Associação Adriano Correia de Oliveira), bem como um álbum de Paulo Montes.

Quanto à parceria com a Turbina, “deriva essencialmente do facto de que o Júlio Moreira, um dos nossos sócios, é também um dos motores da Turbina, e como a Turbina era a «casa» dos projetos de BD que o Júlio tem produzido, houve uma certa lógica em associar as duas cooperativas nestes projetos que ele dirige“, explica José de Freitas. “Este ano teremos certamente mais livros com o selo da Turbina, começando com dois volumes a publicar ainda no primeiro semestre. Um deles é o novo álbum de Marco Mendes, provavelmente o mais belo trabalho que ele já fez, com algumas das mais bonitas pranchas que ele já produziu. Chama-se Porto e terá o já normal formato dos livros dele, deitado, com uma centena de páginas. E um livro chamado Variantes, que é uma homenagem feita a 24 livros de BD importantes da história dos quadrinhos nacionais; para cada um desses livros, um autor contemporâneo, atual, desenhou uma reinterpretação de uma página representativa do original. O livro é complementado com textos sobre cada um dos livros, e conta com pranchas de Marco Mendes, Fábio Veras, Marta Teives, Hada, Jorge Coelho, André Pereira, e muitos, muitos outros. Ambos estes livros estão a ser produzidos ao abrigo do programa Garantir Cultura, ao qual nos candidatámos para uma série de volumes“.

Para além de todos estes livros, José de Freitas refere que têm ainda outros projetos “meio-secretos” planeados para 2022.

O futuro

No que toca à cooperativa passar a editar também banda desenhada norte-americana, José de Freitas afirma que “por enquanto não. Estamos demasiado ocupados com o resto dos nossos planos. A maneira como funcionamos faz com que não tenhamos, de certa maneira, um plano central, uma orientação para o nosso catálogo. Ele reflete simplesmente o gosto dos nossos vários sócios e nem todos eles se interessam por comics ou não se interessam por todos os comics“.

Quanto à existência de mais reedições de obras portuguesas, para além de Fado Ilustrado, José de Freitas afirma que têm planos. “Mas ainda não conseguimos dizer se em 2022 haverá mais reedições de clássicos“.

Sendo uma das editoras que publica autores portugueses, solicitámos à A Seita que elencasse um conjunto de pontos que consideram que os autores portugueses devem equacionar antes de lhes apresentar uma proposta de publicação de um trabalho. “Na verdade, não há assim nenhum «livro de estilo»”, diz José de Freitas. “De modo geral, nós preferimos editar livros de géneros talvez mais «comerciais», se quisermos, mas isso também não é uma regra absoluta. Considerando que a editora se está a abrir a mais projetos de autores nacionais devido ao interesse de outros sócios, para além do Bruno Caetano e do José de Freitas, responsáveis pelo selo Comic Heart, diria que todos os projetos são legítimos e podem ser apresentados. É preciso é que haja sócios da editora que se interessem por eles e decidam responsabilizar-se pela sua edição“.

José de Freitas informa ainda que “poderemos ter um número máximo de  obras a editar, por questões de cash-flow, de planeamento, etc… Estamos sempre relativamente dependentes dos autores apresentarem os seus projetos e existe uma oferta mais ou menos constante de obras. Claro que os timings são muitas vezes difíceis de prever com exatidão, porque temos geralmente de esperar que o livro fique pronto e, muitas vezes, os autores só trabalham na sua BD nos tempos livres e, portanto, nunca sabemos quando o livro vai estar realmente pronto a editar. E sim, já nos aconteceu recusarmos projetos, por uma grande variedade de razões – acharmos que não têm qualidade; acharmos que não se enquadra no nosso catálogo; ou os autores quererem que o livro saia rápido e nós só estarmos disponíveis para o editar passado um ano, por exemplo“.

Estando A Seita a editar várias séries limitadas de autores portugueses, questionámos se acreditavam que o mercado estava pronto para a publicação de séries nacionais. “Temos neste momento a andar um díptico, uma série de 3 e uma de 4“, elucida José de Freitas. “Penso que é relativamente inédito no panorama da BD portuguesa. Mais do que o mercado estar preparado para séries com vários volumes, creio que foi a questão de nós termos sentido que tinha chegado a altura de fazer confiança aos nossos autores e acreditar que eles vão produzir os livros e levá-los a bom porto. Claro que sabemos que muito do trabalho já avançou, e bastante, e que isso nos deixa bastante descansados. O volume 2 do Macho-Alfa está completo, falta só colorir algumas páginas e tratar da legendagem, etc… E o terceiro volume já está muito adiantado. No caso do Homem de Lugar Nenhum posso dizer que o segundo volume está muito, muito adiantado, e já a chegar ao fim da parte do desenho. O mesmo para o volume 2 de Umbigo do Mundo. Por isso acho que não só o mercado nacional está preparado, mas nós como editora também! E posso adiantar que editaremos também este ano o segundo volume de Dragomante, que é o primeiro de dois, um díptico“.

Questionado se a editora tem planos para a edição de Marsupilami noutros registos ou de outras personagens do universo de Spirou, José de Freitas indica que “tirando os planos de edição do segundo volume de A Fera e o nosso interesse já conhecido nos «Spirous de autor», não temos mais planos“.

Quanto ao futuro da coleção Aleph, José de Freitas refere que “infelizmente, a verdade é que a coleção Aleph não tem vendas assim especialmente relevantes. É, sobretudo, um projeto que é caro a alguns dos nossos sócios e, em particular, a personagem de Dylan Dog. Até agora, é difícil de medir a «popularidade» das personagens da Bonelli. As vendas não são muito importantes em geral, praticamente tudo foi Dylan Dog. O único título de que podemos dizer que teve vendas muito boas tinha o Fernando Pessoa na capa… E o Comissário Ricciardi foi uma experiência para testar uma série diferente e ainda não temos números que nos indiquem se vende melhor ou pior do que o Dylan Dog. Creio que os sócios responsáveis pela Aleph gostariam de publicar histórias de muitas mais personagens mas não creio que, neste momento, vá haver muito mais experiências. Esperemos para ver como funciona o Ricciardi“.

Quanto ao futuro da coleção Nona Literatura, “na prática, andamos à procura de álbuns que adaptem clássicos conhecidos, claro, mas que sejam visualmente impactantes“, afirma José de Freitas. “O próximo título que iremos publicar, Macbeth: Rei da Escócia, segue nessa linha de um livro que visualmente é impressionante e que ao mesmo tempo produz uma adaptação fiel do original. Queremos livros que sejam atraentes para os leitores de BD confirmados, mas que simultaneamente possam ser comprados por leitores casuais e que estes gostem de ler uma BD. O Drácula foi um sucesso de vendas e foi o segundo livro que melhor vendeu este ano no nosso catálogo. Dito isto, o Apocalipse vendeu bem; a tiragem era mais pequena e os custos de produção um pouco mais baixos; será um título com vendas constantes“.

Apesar do número de títulos para editar este ano que A Seita revelou, existirá ainda espaço para outras novidades, que informaremos atempadamente.

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