As Nomeações de Outono 2021 dos Prémios Bandas Desenhadas.
Como tínhamos anunciado, desvendamos hoje a quarta lista de Nomeados dos Prémios Bandas Desenhadas 2021. Trata-se da penúltima lista de nomeações, antes de serem desvendados no dia 22 de fevereiro os últimos nomeados com as Nomeações Extemporâneas (as nomeações finais das obras editadas ao longo de todo o ano de 2021, cuja apreciação pelos jurados não foi possível realizar na estação do ano correspondente). A propósito das futuras nomeações extemporâneas, aproveita-se para relembrar as editoras e/ou autores interessados em garantir que os jurados têm acesso à sua obra que devem remeter 1 exemplar físico de cada obra editada até 15 de fevereiro para a habitual morada física do site Bandas Desenhadas (para qualquer questão, podem entrar em contacto connosco).
As obras elegíveis para as Nomeações de Outono são as constantes dos relatórios mensais referentes ao 4.º trimestre do ano do site Bandas Desenhadas, bem como demais obras editadas nesse período posteriormente identificadas. Apesar das exaustivas avaliações, não foi possível aceder à totalidade das 87 obras publicadas nesse período, estando salvaguardado o direito de poder vir a considerá-las para as Nomeações Extemporâneas finais.
O júri deliberou em nomear a obra Gente Remota de Francisco Sousa Lobo, editada pela Chili Com Carne, para a categoria de Melhor Obra Nacional com Distribuição Comercial, tendo ainda obtido a nomeação para Melhor Argumento em Obra Nacional. Narrada na atualidade, evoca memórias da Guerra Colonial, evidenciando a estranha relação que o Portugal atual tem com o seu passado de império global. Concomitantemente, o autor realiza uma crítica social contemporânea, desde as opiniõezinhas nas redes sociais e sites de (des)informação terem substituído o jornalismo sério até a uma reflexão sobre a própria banda desenhada (à qual não falta o apontar de dedo a quem tenta tapar o sol com a peneira com o termo “novela gráfica“). Outra temática importante na obra é a vida académica, com a evocação de como a normalidade que se tornou o mundo universitário influencia o futuro dos jovens adultos, os pequenos poderes dos professores ou a depressão nos universitários.
Quanto à nomeação para a categoria de Melhor Obra Nacional com Distribuição Alternativa, os jurados nomearam Quarentoons: Uma Agenda de um Ano que Já Passou, de Leonardo Cruz e Natacha Costa Pereira, obra que também é nomeada na categoria de Melhor Publicação de Humor. Trata-se do primeiro trabalho em conjunto dos autores, que teve a sua génese na pandemia de COVID-19. Inicialmente publicada nas redes sociais, a BD tem edição em livro pela Escafandro, tendo a série de webcomics sido transformada, tal como o título indica, numa espécie de agenda do passado, onde, em cada dia, para além da tira humorística, constam a principal ou principais manchetes do dia respetivo, relativamente à pandemia. Deste modo, para além da vertente do humor, a obra transforma-se também num importante documento histórico.
No que toca à nomeação de Melhor Ilustração em Obra Nacional, a escolhida foi O Coração na Boca, da autoria de Horácio Gomes, numa edição da Escorpião Azul. Este é o primeiro livro de Horácio Gomes em que utiliza uma mesa digital e a qualidade das suas ilustrações realistas nada perderam com esta troca, fazendo-o, provavelmente, arriscar mais, sem receios, não só no desenho propriamente dito mas na planificação das pranchas ou na atribuição da cor às mesmas. A colorização que o autor realiza está perfeitamente adequada a cada um dos momentos narrados, dando uma dimensão extremamente importante à narrativa.
A obra Umbra n.º 3, com trabalhos de Bárbara Lopes, David Soares, Filipe Abranches, Pedro Moura, Ricardo Baptista e Simon Roy, revelou-se uma antologia equilibrada quanto às suas diferentes propostas. A exploração de diferentes modos narrativos e de diversas soluções gráficas pelos vários autores, reforça novamente o valor desta série antológica. Após muita discussão, o júri optou por nomear para Melhor BD curta em Antologia uma BD publicada também em Umbra n.º 3, de seu título Weep me not dead, da autoria de Pedro Moura e Ricardo Baptista, devido não só à abordagem da temática, como à construção da narrativa e da sua tradução gráfica.
Quanto às obras estrangeiras, a nomeação para a Melhor Obra Estrangeira foi para O Relatório de Brodeck (baseada na obra de Philippe Claudel), de Manu Larcenet, editado pela Ala dos Livros. A obra entrelaça a estória do linchamento de um estrangeiro com as vivências do protagonista e outros segredos da aldeia onde a narrativa se desenrola, evocando o genocídio, a vida após sobreviver a um campo de concentração, a obrigação de recordar os crimes de guerra, a importância da memória e de não esquecer… Os temas abordados por Claudel no seu romance são transpostos por Larcenet numa obra extremamente cuidada a nível gráfico, sendo uma adaptação para a BD extremamente bem conseguida. Os jurados nomearam também a obra para Melhor Argumento em Obra Estrangeira e Melhor Ilustração em Obra Estrangeira.
A nível da nomeação para Melhor Série, os jurados optaram por Sapiens (baseada na obra de Yuvel Noah Harari), de David Vandermeulen e Daniel Casanave, editada pela Elsinore. A obra de Harari aborda a História da Humanidade desde a Idade da Pedra até o século XXI. O seu principal argumento é que o Homo sapiens domina o mundo porque é o único animal capaz de cooperar de forma flexível em largo número, fazendo-o por ser a única espécie capaz de acreditar em produtos da sua imaginação, tais como deuses, nações ou dinheiro. Outros argumentos relevantes do livro são os de que dinheiro é um sistema de confiança mútua, que o capitalismo é uma religião e não apenas uma teoria económica; que o império tem sido o sistema político mais bem sucedido dos últimos 2000 anos, que o tratamento dado a animais domésticos está entre um dos maiores erros da História, que atualmente as pessoas não são necessariamente mais felizes que no passado ou que os humanos se encontram num processo de modernização dos seus deuses. Vandermeulen e Casanave são os responsáveis por traduzir as ideias de Harari para a banda desenhada e realizam-no em pleno, difundido esta importante obra a leitores que dificilmente seriam expostos a elas de outra forma.
Quanto à Melhor Edição, relembra-se que esta categoria avalia não só as bandas desenhadas propriamente ditas mas também o seu suporte físico e a qualidade dos conteúdos extras à própria BD. Se a nível físico, existiam fortes candidatos, a escolha dos jurados aliou não só este facto como à presença e qualidade dos extras de A Fera, da autoria de Zidrou e Frank Pé, editada por A Seita. Para além dos extras à banda desenhada onde os autores recriam o Marsupilami de forma mais realista e onde se evocam algumas das consequências da França ter sido invadida na Segunda Guerra Mundial, os jurados destacam ainda a qualidade de impressão, bem como do cuidado na escolha do papel para esta edição.
No que toca à Melhor Reedição, foi nomeado o clássico contemporâneo nacional Tu És a Mulher da Minha Vida, Ela a Mulher dos Meus Sonhos, da autoria de Pedro Brito e João Fazenda, editado por A Seita. Para além da encadernação em capa dura, destaca-se o facto da obra ter sido enriquecida por um conjunto de extras.
Nomeações de 2021
Melhor Obra Nacional com Distribuição Comercial
- Inverno: Discórdia – Nani Brunini (Pato Lógico)
- Primavera: Os Covidiotas – Luís Louro (Ala dos Livros)
- Verão: Umbigo do Mundo vol. 1: Alma Mãe – Penim Loureiro & Carlos Silva (A Seita)
- Outono: Gente Remota – Francisco Sousa Lobo (Chili Com Carne)
- Extemporânea:
Melhor Obra Nacional com Distribuição Alternativa
- Inverno: Palácio n.º 2 – Francisco Sousa Lobo (ed. autor)
- Primavera: Palácio n.º 3 – Francisco Sousa Lobo (ed. autor)
- Verão: Little Girl – André Caetano (ed. autor)
- Outono: Quarentoons: Uma Agenda do Ano que Já Passou – Leonardo Cruz & Natacha Costa Pereira (Escafandro)
- Extemporânea:
Melhor Argumento em Obra Nacional
- Inverno: Palácio n.º 2 – Francisco Sousa Lobo (ed. autor)
- Primavera: Palácio n.º 3 – Francisco Sousa Lobo (ed. autor)
- Verão: A Aranha – Carlos Pais (Escorpião Azul)
- Outono: Gente Remota – Francisco Sousa Lobo (Chili Com Carne)
- Extemporânea:
Melhor Ilustração em Obra Nacional
- Inverno: Mnemosina – André Coelho (Bestiário)
- Primavera: My Best Friend Lara – Joana Mosi (ed. autor)
- Verão: Umbigo do Mundo vol. 1: Alma Mãe – Penim Loureiro (A Seita)
- Outono: O Coração na Boca – Horácio Gomes (Escorpião Azul)
- Extemporânea:
Melhor Antologia
- Inverno: Outras Bandas n.º 4 (Tágide)
- Primavera: Querosene (Chili Com Carne)
- Verão: Ditirambos vol. 2: Abismo (Ditirambos)
- Outono: Umbra n.º 3 (Umbra)
- Extemporânea:
Melhor BD Curta editada em Antologia
- Inverno: “Menino Perdido” – Susana Resende (em Outras Bandas n.º 4 – Tágide)
- Primavera: “Terra Queimada” – Sofia Neto (em Querosene – Chili Com Carne)
- Verão: “Mise en Abyme” – Nuno Filipe Cancelinha & Raquel Costa (em Ditirambos vol. 2: Abismo – Ditirambos)
- Outono: “Weep Me Not Dead” – Pedro Moura & Ricardo Baptista (em Umbra n.º 3 – Umbra)
- Extemporânea:
Melhor Publicação Estrangeira
- Inverno: O Castelo dos Animais 2: As Margaridas do Inverno – Xavier Dorison & Félix Delep (Arte de Autor)
- Primavera: Fahrenheit 451 (baseada na obra de Ray Bradbury) – Tim Hamilton (Relógio d’Água)
- Verão: 1984 (baseada na obra de George Orwell) – Xavier Coste (Relógio d’Água)
- Outono: O Relatório de Brodeck (baseada na obra de Philippe Claudel) – Manu Larcenet (Ala dos Livros)
- Extemporânea:
Melhor Argumento Estrangeiro
- Inverno: O Castelo dos Animais 2: As Margaridas do Inverno – Xavier Dorison (Arte de Autor)
- Primavera: Fahrenheit 451 (baseada na obra de Ray Bradbury) – Tim Hamilton (Relógio d’Água)
- Verão: O Combate Quotidiano vol. 1 – Manu Larcenet (Arte de Autor | A Seita)
- Outono: O Relatório de Brodeck (baseada na obra de Philippe Claudel) – Manu Larcenet (Ala dos Livros)
- Extemporânea:
Melhor Ilustração Estrangeira
- Inverno: O Burlão nas Índias – Juanjo Guarnido (Ala dos Livros)
- Primavera: Apesar de Tudo – Jordi Lafebre (Arte de Autor)
- Verão: 1984 – Xavier Coste (Relógio d’Água)
- Outono: O Relatório de Brodeck (baseada na obra de Philippe Claudel) – Manu Larcenet (Ala dos Livros)
- Extemporânea:
Melhor Publicação de Humor
- Inverno: Mika & Patata em D.A.D. – João Gordinho (Black Ink)
- Primavera: Spaghetti Bros 2 – Carlos Trillo & Domingo Mandrafina (Arte de Autor)
- Verão: Diários do Corona #2 – Bruno Borges (Fojo | O Gorila)
- Outono: Quarentoons: Uma Agenda do Ano que Já Passou – Leonardo Cruz & Natacha Costa Pereira (Escafandro)
- Extemporânea:
Melhor Série de Publicações
- Inverno: Rio – Louise Garcia & Corentin Rouge (ASA)
- Primavera: Peter Pan – Régis Loisel (ASA)
- Verão: Monstress – Sana Takeda & Marjorie Liu (Saída de Emergência)
- Outono: Sapiens (baseada na obra de Yuvel Noah Harari) – David Vandermeulen & Daniel Casanave (Elsinore)
- Extemporânea:
Melhor Edição
- Inverno: O Burlão nas Índias – Alain Ayroles & Juanjo Guarnido (Ala dos Livros)
- Primavera: O Mercenário vol. 10: Gigantes – Vicente Segrelles (Ala dos Livros)
- Verão: Os Olhos do Gato – Alejandro Jodorowsky & Moebius (Arte de Autor | A Seita)
- Outono: A Fera – Zidrou & Frank Pé (A Seita)
- Extemporânea:
Melhor Reedição
- Inverno: Armazém Central vol. 1: Marie – Régis Loisel & Jean-Louis Tripp (Arte de Autor)
- Primavera: O Mercenário vol. 1: O Fogo Sagrado – Vicente Segrelles (Ala dos Livros)
- Verão: Corto Maltese vol. 10: Tango – Hugo Pratt (Arte de Autor)
- Outono: Tu És a Mulher da Minha Vida, Ela a Mulher dos Meus Sonhos – Pedro Brito & João Fazenda (A Seita)
- Extemporânea:
O anúncio das Nomeações Extemporâneas dos Prémios Bandas Desenhadas 2021 será realizado a 22 de fevereiro de 2022.
Fundador e administrador do site, com formação em banda desenhada. Consultor editorial freelance e autor de livros e artigos em diferentes publicações.