O Perigoso Pacifista

O Perigoso Pacifista

Histórias de Adriano Correia de Oliveira.

Em maio, a cooperativa editorial A Seita e o Centro Artístico, Cultural e Desportivo Adriano Correia de Oliveira editaram a banda desenhada O Perigoso Pacifista – Histórias de Adriano Correia de Oliveira. Tem como propósito relembrar este cantor de intervenção, nascido há 80 anos, que precocemente nos abandonou.

Se, a nível de ilustrações, a obra conta com o veterano João Mascarenhas, no que toca ao argumento, este foi realizado por Paulo Vaz de Carvallho, guitarrista que acompanhou Adriano e que se estreia neste domínio. A banda desenhada padece desta ser a sua primeira obra, com uma narrativa pobre, que não é mais que uma sucessão de alguns eventos da vida de Adriano, nem todos sequer bem conseguidos.

Sem dúvida que a obra cumpre aquilo a que se propõe e, inclusivamente, será certamente acolhida por todos aqueles que se interessam pela figura de Adriano, desde que não tenham nenhum interesse específico por banda desenhada e/ou não tenham a expectativa de ler uma boa obra dedicada a esta figura incontornável da luta pela liberdade.

Tal é um problema quase omnipresente no nosso país (e não só) no que toca a biografias, sejam ou não obras mais ou menos institucionais. Por norma, adaptar para banda desenhada, num reduzido número de páginas, a vida de alguém, repleta de ricos acontecimentos, desde que nasce até que falece, costuma ter resultados narrativos medíocres. Especialmente, se a técnica utilizada é abordar uma vida inteira, enquanto um desfilar de acontecimentos, num reduzido número de pranchas, um problema recorrente, quase omnipresente, nas biografias em banda desenhada publicadas em Portugal.

Infelizmente, a maioria dos argumentistas não tem sabido procurar outro tipo de soluções, especialmente se dispõem de um número reduzido de páginas, caindo na tentação (impossível) de tentar narrar toda uma vida, ao invés de se focarem somente num ou noutro episódio ou, alternativamente, alterando toda a estrutura, escolhendo-se um tema ou momento importante a partir do qual se podem realizar algumas analepses e/ou prolepses relacionadas com o momento em causa, criando uma verdadeira narrativa.

A verdade é que as decisões que levam à publicação deste tipo de obras são realizadas frequentemente com base em equívocos sobre o que é e quais são as potencialidades da banda desenhada, decisões essas raramente realizadas por quem conheça bem o meio.

De qualquer modo, se entre os que se interessam por banda desenhada, tais obras raramente se destacam positivamente, a verdade é que frequentemente as instituições e o público não consumidor de BD consideram que o objetivo foi muito bem cumprido.

Neste caso, a escolha de Mascarenhas como ilustrador, profissional que ao longo das últimas décadas já demonstrou não só o seu domínio nas questões gráficas mas também como contador de histórias, sem dúvida que foi uma boa escolha e certamente contribuiu para ajudar a suavizar a tentativa realizada de existir um argumento. Tem, por outro lado, a mais-valia de permitir o reencontro, muito aguardado e muito bem-vindo, dos leitores de João Mascarenhas com a sua arte, após 7 anos de ausência no que toca a obras de banda desenhada.

Quanto ao CD que acompanha a banda desenhada, é um objeto sobre o qual houve pouca reflexão, caracterizado pela ausência de informações, não condigno da efeméride que comemora.

Clique nas imagens para as visualizar em toda a sua extensão:

Eis a sinopse da editora:

A música de Adriano Correia de Oliveira marcou profundamente a vida de Portugal antes e depois do 25 de Abril, e foi uma das peças fundamentais com que se construiu o país democrático em que hoje vivemos. Durante muito tempo injustamente esquecida, a obra de Adriano é homenageada neste livro que, através de depoimentos daqueles que privaram directamente com o cantor, recolhidos por Paulo Vaz de Carvalho e João Mascarenhas, mostra um lado mais divertido e mais humano de uma das mais importantes vozes portuguesas da segunda metade do século XX. Um livro que inclui um CD com sete dos seus maiores êxitos, e que nos relembra que naqueles tempos, “Revolução” rimou muitas vezes com “canção”.
A Seita e o Centro Artístico Cultural e Desportivo Adriano Correia de Oliveira associaram-se para esta edição, inserida nas comemorações do nascimento de Adriano, uma obra desenvolvida em conjunto por dois autores ligados, não só à Associação, mas também à memória e vida de Adriano, especialmente Paulo Vaz de Carvalho, que com ele privou ao longo da sua vida, e que ajudou a relembrar e a fixar momentos do dia-a-dia de uma vida que marcou os inícios do Portugal em que vivemos. João Mascarenhas, autor de banda desenhada já confirmado e com obra feita, dedicou-se a ilustrar esta biografia, mas também, em muitas das suas páginas, a Coimbra dos seus tempos de estudante, a mesma Coimbra que ajudou a criar a pessoa de Adriano Correia de Oliveira.
Este volume inclui uma secção extensa de notas biográficas sobre Adriano Correia de Oliveira, bem como a sua discografia completa, e um prefácio de José Barata-Moura.
O livro inclui um CD em que se reúnem sete dos maiores êxitos de Adriano Correia de Oliveira:
1 – Minha Mãe (1962) – 03:07
2 – Trova do Vento que Passa (1963)
3 – Cantar de Emigração (1970)
4 – Canção com Lágrimas (1970)
5 – E Alegre se Fez Triste (1971)
6 – Tejo que Levas as Águas (1975)
7 – Vira Velho (1980)

Paulo Vaz de Carvalho é guitarrista e professor universitário. Como músico, acompanhou Adriano em inúmeros concertos, e tem estado presente a solo e em conjuntos, em festivais de guitarra portugueses e estrangeiros. Foi solista de guitarra com as orquestras Camerata Musical do Porto, Regie Sinfonia do Porto, Orquestra Metropolitana de Lisboa, Orquestra do Norte e Filarmonia das Beiras. É Professor Auxiliar nas áreas de Guitarra, Técnica e Literatura de Guitarra e Música de Câmara, no Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro. O Perigoso Pacifista assinala a sua estreia como escritor de Banda Desenhada.

João Mascarenhas é autor e divulgador premiado de Banda Desenhada e ilustração. A sua personagem (e seu alter ego) O Menino Triste é publicada desde 2001, contando já com 4 livros. Outro trabalho seu, Butterfly Chronicles, uma BD de ficção científica, foi criada para suportes digitais de leitura. Tem sido exposto em vários continentes, participado em inúmeros projetos e editado vários fanzines, o último dos quais foi BDLP, que reúne autores dos países da CPLP e venceu o Prémio Nacional de BD do Festival Internacional Amadora BD 2013 na categoria Fanzine e o Troféu HQ MIX 2014, no Brasil, na categoria Destaque Língua Portuguesa. O Perigoso Pacifista é o seu mais recente trabalho em BD.

Para mais pormenores, ver o vídeo:

O Perigoso Pacifista – Histórias de Adriano Correia de Oliveira
PAULO VAZ DE CARVALHO, JOÃO MASCARENHAS
Editora: A Seita | Centro Artístico, Cultural e Desportivo Adriano Correia de Oliveira
Páginas: 56, a cores
Dimensões: 215 x 285 mm
ISBN: 978-989-53382-6-9
PVP: 17,50€

Deixa um comentário