
Análise de Noir Burlesco 1
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Sem quaisquer letras antes ou depois, as reticências são silêncio, impasse, uma espera sem ruído ou o correspondente à letra “s” no código morse.
Ora, quando se conta uma história, quere-se ruído, quere-se uma voz narrativa que se instale no nosso cérebro e nos projecte imagens acompanhadas de som. Na 9.ª Arte (e na 6.ª), a esse som chama-se onomatopeia. É o bang! de uma arma a disparar, o crash! de um acidente de automóvel, o tic tac! de um relógio ou um mmmm! rouco e prolongado numa noite tórrida.
E quando as onomatopeias são usadas com muita parcimónia?
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Os géneros ou os estilos literários e artísticos são compostos por uma série de características específicas que os definem. Essas características identificadoras ajudam a criar preferências entre os leitores e os observadores, mas rapidamente se tornam em clichés cansativos quando um género ou estilo se esgota a si próprio, deixa de ser inventivo e sai de moda.
E quando uma obra é a síntese de todos os clichés de um género?
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Agora, imaginem uma Banda Desenhada onde a ausência de onomatopeias é gritante e tudo o que é cliché do filme ou do policial noir é utilizado para contar uma história.
É com estas duas premissas que folheio e início depois a leitura do primeiro volume de Noir Burlesco, o novo díptico de Enrico Marini que a Arte de Autor e A Seita acabam de publicar em coedição.
Os apreciadores portugueses de Banda Desenhada conhecem bem Marini através das séries Gipsy, Os Dossiers de Olivier Varèse, Águias de Roma, O Escorpião, Rapaces, e o recente díptico Batman – O Príncipe Encantado das Trevas. E sabem que o autor não desilude.
Mas será que Marini nos vai desiludir com uma sucessão de clichés? Um pastiche pouco inventivo, uma colagem sem nexo ou fio condutor?

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Amante da literatura em geral, apaixonado pela BD desde a infância, a sua vida adulta passa-a toda rodeado de livros como editor. Outra das suas grandes paixões é o cinema e a sua DVDteca.