As Nomeações do 1.º Trimestre de 2023 dos Prémios Bandas Desenhadas.
Como tínhamos anunciado, desvendamos hoje a primeira lista de Nomeados da 5.ª edição dos Prémios Bandas Desenhadas. As obras elegíveis para as Nomeações de Inverno 2023 são obras lançadas no 1.º trimestre, identificadas pelo Observatório do site Bandas Desenhadas até à presente data. Apesar das exaustivas avaliações, não foi possível aceder à totalidade das cerca de 80 obras publicadas nesse período, estando salvaguardado o direito de poder vir a considerá-las para as Nomeações Extemporâneas finais.
Como tínhamos anunciado, 2023 marca o ano em que as duas categorias Melhor Obra Nacional com Distribuição Comercial e Melhor Obra Nacional com Distribuição Alternativa foram eliminadas e reunidas numa única categoria designada de Melhor Obra Nacional, sendo, obviamente, essas alterações já visíveis nas Nomeações de Inverno 2023.
Entretanto, dado existirem cada vez mais lançamentos e editoras a dedicar-se à publicação de manga, banda desenhada infantil e banda desenhada juvenil foram criadas três novas categorias específicas, de modo a distinguir esse trabalho que tem vindo a ser efetuado, as quais também já se encontram presentes nas Nomeações de Inverno 2023. Tal como já acontecia com as obras elegíveis para a categoria de Melhor Publicação de Humor, as obras elegíveis para as categorias de Melhor Manga, Melhor BD Infantil e Melhor BD Juvenil são igualmente elegíveis para todas as outras categorias, exceto quando, evidentemente, tal como qualquer outra obra, não cumpram os critérios específicos das categorias em causa (p.e., nacionalidade, reedição, etc).
Nas Nomeações de Inverno 2023, o júri designou o nomeado para 13 das 15 categorias dos Prémios, não tendo sido atribuída nomeação em duas delas no 1.º Trimestre.
Os prémios referentes às obras nacionais foram alvo de animada discussão e cuidada apreciação, devido a existir um conjunto veramente interessante de obras elegíveis aos mesmos. O júri deliberou em nomear a obra 7 Senhoras de Margarida Madeira (cf. entrevista com autora), uma edição de autor, para as categorias de Melhor Obra Nacional e Melhor Ilustração em Obra Nacional. Neste seu primeiro registo editado em banda desenhada, Madeira realiza uma viagem à sua infância vivida no interior do nosso país para refletir sobre o papel da mulher na sociedade e abordar conceitos como a morte, o divórcio, a monoparentalidade, a violência doméstica, a prostituição, a iliteracia e a desigualdade de género. Numa edição cuidada, as suas ilustrações conseguem, por um lado, captar a inocência da faixa etária da protagonista na altura e, por outro, dar um cunho forte e sério à narrativa.
O argumento de Roberto Macedo Alves em O Teatro: Lugar de Entre(Mundos), editada pela Sétima Dimensão, foi o eleito para a nomeação de Melhor Argumento em Obra Nacional. Macedo Alves valeu-se da experiência obtida na obra biográfica António Aragão: Os Olhos que Escutam o Mundo (Secretaria de Regional de Turismo e Cultura da Região Autónoma da Madeira, 2022) para utilizar técnicas semelhantes no que toca a uma obra dedicada à história de uma instituição, o Teatro Municipal Baltazar Dias, sito no Funchal, evitando, mais uma vez, cair nas armadilhas dos argumentos das obras de banda desenhada institucionais e elaborando um planeamento de composição gráfica de pranchas elaboradas por diversos autores (para além de Macedo Alves, a obra é ilustrada por Anthony Brazão, Francisco Branco e Válter de Sousa, contando ainda com ilustrações adicionais de Mónica Garcês e Sebastião André). Mais um exemplo de como se pode e deve realizar este tipo de obra, de uma forma completamente distinta das habituais bandas desenhadas maçadoras que surgem em ocasiões semelhantes.
Quanto às publicações estrangeiras, as nomeações para a Melhor Obra Estrangeira e Melhor Argumento Estrangeiro foram para Spirou: A Esperança Nunca Morre… – Segunda Parte de Émile Bravo, editada pela ASA. Bravo elabora uma trama deveras original, onde homenageia não só a criação de Spirou por Rob-Vel, como situa a ação na Segunda Guerra Mundial. Na verdade, a história de Spirou e do seu criador estão também intimamente ligadas a esta guerra, não só com o facto de Rob-Vel ter sido mobilizado para a mesma – sendo ferido e preso, o que levou à sua substituição na série até ser libertado -, mas também com a venda dos direitos do personagem à Dupuis quando o hebdomadário homónimo foi proibido de circular pelos nazis. A série Spirou: A Esperança Nunca Morre… foi ainda nomeada para Melhor Série de Publicações.
No que toca à Melhor Ilustração Estrangeira, a banda desenhada Menina Baudelaire de Yslaire, editada pela Ala dos Livros, foi a obra nomeada. Os jurados foram conquistados pelo traço e paleta de cores desta obra, que mostra o autor no seu auge.
A obra Spaghetti Bros. 4, da autoria de Carlos Trillo e Domingo Mandrafina, editada pela Arte de Autor foi nomeada para Melhor Publicação de Humor. Os jurados destacam uma vez mais esta divertida e, por vezes, hilariante comédia de costumes que segue a saga da família italiana Centobucchi, radicada em Nova Iorque no final dos anos 20 do século passado, composta por 5 irmãos – um mafioso cruel, um padre torturado, um polícia inflexível, uma atriz e uma mãe de família que é uma assassina contratada. Trata-se de uma deliciosa comédia negra, que foi integralmente publicada no nosso país. Faz-se votos para que a editora publique o epílogo da mesma.
Para a categoria de Melhor Manga foi nomeada Sunny vol. 1 de Taiyo Matsumoto, editada pela Devir, numa publicação que reúne os 2 primeiros tomos originais desta série. Não sendo uma obra autobiográfica, Matsumoto utilizou a sua experiência pessoal em casas de acolhimento de crianças e jovens para construir uma estória sobre o quotidiano de quem cresce e se desenvolve na ausência das figuras paternas, num argumento complementado por um trabalho gráfico ao qual é impossível ficar indiferente.
Quanto à Melhor BD Infantil, após muita deliberação, optou-se pela nomeação de Ariol vol. 2: O Cavaleiro Cavalo, de Emmanuel Guibert e Marc Boutavant. Nas pequenas estórias presentes, os autores vão muito para além do humor da série – aliás, muito frequente nas diferentes propostas de BD para estas idades – e dão lugar a muitas outras experiências de leitura, com uma aprofundamento pouco comum. A grande qualidade do trabalho gráfico de Boutavant é também de elogiar.
A obra Mar Negro de Ana Pessoa (cf. entrevista aqui) e Bernardo P. Carvalho (cf. entrevista aqui), editada pelo Planeta Tangerina, foi a obra eleita para ser nomeada na categoria de Melhor BD Juvenil. Trata-se de uma estória muito bem contada sobre a construção de identidade e as segundas escolhas no amor, com um planeamento gráfico a dar asas à imaginação na composição das páginas, resultando num argumento e ilustrações, entrelaçados da melhor forma possível.
Chu, da autoria de Ed Brubaker e Sean Phillips, editado pela G. Floy, foi a escolha do júri para a Melhor Edição. Por um lado, a editora optou por uma edição integral, reunindo todas as revistas originais num único volume. Por outro lado, brindou os leitores com um extenso dossier final de extras com capas alternativas, esquissos, estudos de personagens e exemplos de como o argumento originou algumas das pranchas.
Por fim, também a categoria de Melhor Reedição foi alvo de grande deliberação pelos jurados, uma vez que existiam diversas obras elegíveis com excelentes propostas, onde se incluíam desde melhorias no formato relativamente à primeira edição nacional e novos extras até à inclusão de novas cenas e reilustração de toda a BD, mais próximo de um remake que uma reedição tradicional. O júri optou pela obra The End of Madoka Machina de André Pereira, editada pelo coletivo MASSACRE, a qual não só compila num único livro a série de fascículos Madoka Machina publicados pela Polvo entre 2015 e 2018, como uma BD publicada numa antologia em 2019 e material original, tendo o autor atualizado algum do material previamente publicado. Passados estes anos, a reedição desta narrativa futurista centrada em jovens urbanos semideprimidos era premente. A banda desenhada é ainda complementada por um posfácio do autor de interessante leitura.
Apresenta-se de seguida a lista completa das Nomeações dos Prémios Bandas Desenhadas 2023. Atendendo a que se trata da primeira listagem do ano, só estão presentes as Nomeações de Inverno 2023, estando também anunciadas as datas de divulgação das próximas nomeações.
Nomeações de 2023
Próximas Datas
Vencedores da 4.ª edição dos Prémios Bandas Desenhadas
Os vencedores serão anunciados muito em breve, não sendo ainda possível indicar, neste momento, a data exata dessa revelação. Fiquem atentos!
Nomeações de Primavera dos Prémios Bandas Desenhadas 2023
Entretanto, continuamos a trabalhar na 5.ª edição dos Prémios Bandas Desenhadas, referentes às obras publicadas em 2023. Como é habitual, a data de anúncio dos nomeados referentes às obras publicadas no 2.º trimestre de 2023 mantém-se a 22 de julho. Relembramos os editores e autores que a data-limite para a receção das obras editadas entre 01 de abril e 30 de junho de 2023 é o próximo dia 15 de julho. Para qualquer esclarecimento, podem entrar em contacto com o nosso site
Fundador e administrador do site, com formação em banda desenhada. Consultor editorial freelance e autor de livros e artigos em diferentes publicações.