
Entrevista a Miguel Jorge, a propósito do lançamento de Manual de Instruções.
Nuno Pereira de Sousa: O Nuno Markl explica sumariamente no prólogo do livro como foi decidido que Manual de Instruções, inicialmente pensado como um filme, se tornasse uma banda desenhada. Mas pormenoriza-nos como tudo se passou.
Miguel Jorge: O Nuno é um ser humano incrível e extremamente entusiasta de tudo o que gosta. Há cerca de 10 anos, ele viu o meu trabalho e disse as palavras marcantes «eh pá, gosto do teu trabalho; devíamos fazer alguma coisa juntos». A partir daí, tentámos várias ideias, mas havia sempre alguma situação que inviabilizava o projeto. Até ao dia em que, à mesa do café do Sr. Martins, o Nuno narrou-me a sinopse do Manual de Instruções. Eu tinha terminado há pouco tempo da adaptação do Amor de Perdição, que durou 4 meses a executar, e sentia-me extremamente culpado pela minha falta de atenção à família durante esse período e, talvez por isso, a história de Alberto Simões era não só a história que eu gostava de desenhar a seguir mas a história que eu precisava desenhar a seguir.
Nuno Pereira de Sousa: O Nuno Markl entregou-te o guião para o eventual filme ou, após ter optado pela banda desenhada, transformou o guião cinematográfico num argumento para banda desenhada?
Miguel Jorge: O Manual de Instruções foi escrito para cinema. O Nuno entregou-me a história em formato guião cinematográfico e eu fiz a adaptação a partir daí.
Nuno Pereira de Sousa: Quão detalhado era o guião e que liberdade tiveste para a composição das páginas?
Miguel Jorge: Apesar do argumento do Nuno ser bastante detalhado ao ponto de incluir faixas musicais específicas para acompanhar algumas das cenas, a adaptação foi livre de qualquer restrição. Fui o mais respeitoso possível pelo trabalho do Nuno.
Nuno Pereira de Sousa: Apesar do humor presente na obra, consideras que o Nuno Markl acertou nos tópicos para manter um casamento?
Miguel Jorge: Os tópicos abordados pelo Nuno não são uma fórmula mas sim o básico para funcionarmos como seres humanos. O Alberto Simões não precisou de mais do que começar a prestar mais atenção à família. Mas é claro que para isso precisou de um “Manual de Instruções”.
Nuno Pereira de Sousa: E como foi trabalhar no registo de humor?
Miguel Jorge: O estilo mais «cartoon» que usei no Manual de Instruções é uma ferramenta que sempre tive ao longo da minha carreira e uma das coisas que eu penso que o Nuno possa ter gostado em mim é a minha habilidade de saltar entre estes estilos conforme as necessidades. Desde muito cedo concluí que uma comédia escrita pelo Nuno Markl e desenhada num estilo “realista” não era o caminho certo. Mas gostei muito de voltar ao meu estilo mais cartoon, que já não usava, talvez, desde que trabalhei na revista da Rua Sésamo ou no suplemento infantil do Correio da Manhã.
Nuno Pereira de Sousa: Que materiais utilizaste para elaborar esta banda desenhada?
Miguel Jorge: Há cerca de 8 anos que trabalho em formato digital e este livro não foi excepção. Para ser menos vago, usei e continuo a usar o Clip Studio Paint – um software criado de propósito para banda desenhada.





NPS: A tua chancela MigHell Publishing edita as antologias Apocryphus, desde 2016. Que vantagens e desvantagens julgas existirem na estratégia da auto e da microedição pelos autores em Portugal?
MJ: O Apocryphus deu-me uma visão mais real do mercado que temos em Portugal. É um mercado muito pequeno, o que faz com que seja relativamente fácil chegar onde os grandes chegam. Mas, por ser pequeno, também se torna difícil conseguir rentabilizar eficazmente um projeto mais pequeno. A autoedição, em especifico, dá liberdade total aos autores para fazerem o que querem, com tudo o que isso trás de bom e de mau.
NPS: A antologia Apocryphus vai prosseguir? Se sim, o que nos podes revelar sobre o próximo volume?
MJ: Até à data, há toda a intenção de lançar o sexto volume da antologia Apocryphus. O tema do sétimo volume é «Aventura» e vai continuar a apresentar novos autores e alguns veteranos e uma capa fabulosa de um artista português, como já é habitual. Infelizmente, não sairá ainda este ano. Mas vamos aproveitar este compasso de espera para tentar tornar o Apocryphus em algo ainda mais aliciante, quer para os leitores, quer para os autores que participam.
NPS: E o que podes revelar aos nossos leitores sobre os projetos em que te encontras a trabalhar atualmente?
MJ: Neste momento, estou ativamente a desenhar histórias para uma nova revista de fantasia que irá ser lançada no mercado norte-americano no final do ano, enquanto preparo toda a concept art para uma graphic novel de ficção científica escrita pelo realizador galardoado Paul J. Salamoff.
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Fundador e administrador do site, com formação em banda desenhada. Consultor editorial freelance e autor de livros e artigos em diferentes publicações.