Análise de Nestor Burma volumes 1 a 4
No mundo da literatura, é difícil ser-se original. Pode ser-se inventivo, genial, mas original é coisa mais rara. E se nos detivermos nos géneros literários, então a coisa complica-se mais.
É que desde que a Pré-História passou a História, o homem não parou de escrever. Desde a Epopeia de Gilgamesh ao mais recente romance a entrar nos escaparates das livrarias, os escritores tentam reinventar a roda, mas o mais que podem fazer (na maior parte das vezes) é acrescentar-lhe um raio.
De tempos a tempos, lá aparece um fio de genialidade que, tocando a originalidade, consegue rescrever cânones há muito fixados e acrescentar uns quantos a um género literário.
Ora, foi precisamente isso que se passou em 1954 quando Léo Malet escreveu O Sol Nasce Atrás do Louvre, a primeira aventura de Nestor Burma.
O género é policial, o sub-género é policial noir a pender para o hard-boiled. As regras da escrita e da narrativa estão, por isso, mais que definidas. Mas Malet acrescenta-lhe dois ingredientes originais: cada caso passa-se num arrondissement de Paris e o seu protagonista, o detective privado Nestor Burma, é exímio em brindar-nos com o mais delicioso e inventivo vernáculo parisiense.
Até pode parecer coisa pouca, mas estes dois elementos, por si só, acrescentam outros dois pontos de originalidade aos romances de Nestor Burma: por um lado, mais que a cidade ser também protagonista das histórias, são os bairros parisienses que o são (com todas as características que os diferem); por outro lado, o calão utilizado por Burma confere uma ponta de humor ácido ao policial noir, conhecido precisamente pela sua ausência de humor.
E aqui está… o ponto de originalidade que Léo Malet conseguiu inserir na literatura. Em bom tempo, Jacques Tardi levou Nestor Burma para a 9.ª Arte, sendo seguido por Emmanuel Moynot e Nicolas Barral. A série conta já com 13 títulos dos quais já foram publicados pela Gradiva em Portugal os volumes 5 a 8, correspondentes à era pós-Tardi.
E são esses que são agora passados em revista.
Vamos às histórias!
Paris. Junho de 1955. 6.º arrondissement.
Naquela noite, na Cave Bleue, celebra-se a eleição da Miss Lixo. Nas noites parisienses já não se sabe que mais inventar para distrair a clientela. Táxi, uma loira gira, é eleita rainha da noite e Nestor Burma assiste a tudo na companhia de uma mulher que o quer mais do que ele a ela.
Um pouco mais tarde, Burma encontra o seu cliente, Charlie Mac Gee em processo de arrefecimento na sua cama no Hotel Diderot. Uma morte mal disfarçada, já que Mac Gee tem na mão uma pistola com silenciador e tudo indica que esperava visitas.
De volta à Cave Bleue, Burma dá de caras, pela segunda vez na noite, com Germain Saint Germain, um escritor sem grande talento em busca de inspiração. Germain Saint Germain, de seu nome verdadeiro Bergougnou, convida o detective a terminar a noite em sua casa, no meio de uma fauna interessante que o escritor se diverte a observar.
Na manhã seguinte, de regresso ao escritório, Burma deve entrar em contacto com Grandier, um outro cliente que se impacienta com o seu caso que parece estagnado: o desaparecimento de joias no valor de 150 milhões de francos.
Munido do seu cachimbo e da sua fleuma habitual, Burma retoma a investigação. Os dois enigmas estão ligados e a cada passo que dá, Burma esbarra com o meloso do Germain Saint Germain…
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Amante da literatura em geral, apaixonado pela BD desde a infância, a sua vida adulta passa-a toda rodeado de livros como editor. Outra das suas grandes paixões é o cinema e a sua DVDteca.