Análise de Frankenstein.
É impressionante como, se alguém pesquisar num motor de busca pelo nome Frankenstein, o que aparece de imediato em termos de imagens são as fotos do actor Boris Karloff no filme de 1931. E, no entanto, o personagem desempenhado por Karloff não é Frankenstein, mas o monstro criado por este. Ou seja, Frankenstein é o cientista criador do monstro e não a criatura.
E se durante muitas décadas, às custas do filme da Universal, confundiu-se o monstro com o seu criador, agora o erro parece eternizar-se com a internet.
Para além disso, embora o filme de 1931 tenha os seus encantos e faça, indiscutivelmente, parte da história do cinema, em muitos aspectos afasta-se da letra e do espírito da obra escrita pela inglesa Mary Shelley, quando tinha apenas 21 anos.
Frankenstein ou o Moderno Prometeu (1818), é tratado de maneira bem mais fiel no filme de Kenneth Branagh de 1994, no qual o Monstro é interpretado por Robert De Niro. Mesmo assim, e muito devido ao ego do realizador, o filme não consegue transmitir com exactidão a mensagem de Shelley.
E vemo-nos chegados assim ao Frankenstein de Mary Shelley, adaptado e desenhado por Georges Bess (cf. sinopse e previews do lançamento nacional aqui), autor bisado pela editora A Seita e que nos ofereceu há bem pouco tempo a magnífica adaptação do Drácula de Bram Stoker (ver artigo Drácula: Sedutor, Maléfico, Fascinante!).
Esta é a adaptação que vale a pena, tanto ao nível de texto como da imagem. Mas, antes de mais…
Vamos à história!
As palavras deixadas pelo Capitão Walton no seu diário de bordo são inequívocas. O seu objectivo é ser o primeiro a encontrar uma passagem através dos gelos do Pólo Norte. A viagem é perigosa, difícil, com enormes placas de gelo a rasarem o grande veleiro e o vento gelado a cortar a pele dos marinheiros. Vale a disciplina imposta pelo Mestre da Tripulação, que o faz de maneira suave.
Faz vários dias que o navio deixou para trás a vila russa de Arkhangelsk e encontra-se agora em pleno coração do inferno branco. Dia após dia, o gelo estreita-se ao redor do veleiro até o prender numa garra gelada. Os gigantescos icebergues ocupam o horizonte e provam à tripulação a sua pequenez face à natureza.
A viagem dura há quase quinze dias e a embarcação continua presa, naquele 5 de Agosto, batida por uma tempestade de neve que fustiga a tripulação inquieta. E para piorar o dia, é avistada ao longe uma figura gigantesca a conduzir um trenó puxado por cães. Como poderia sobreviver naquele território inóspito e inexplorado?
O mar agita-se. O gelo parte-se. E o navio libertado prossegue viagem.
Na manhã seguinte, um enorme bloco de gelo aproxima-se do veleiro. Em cima dele está um trenó, um cão e um homem. E não é o gigante selvagem avistado no dia anterior. O homem, prestes a morrer de frio, de fome e de exaustão, é prontamente recolhido a bordo e instalado confortavelmente na cama da cabina. A figura enigmática mal consegue articular umas palavras e só dois dias depois começa a contar a sua estranha história e a perseguição que mantém ao estranho ser que foge dele. O capitão Walton resolve escrever no seu diário a história deste homem à medida que ele a vai contando.
“O meu nome é Victor Frankenstein…”
E assim começa o romance que muitos acham fundador do género de Ficção Científica. Que outros acham o apogeu da literatura gótica. E que outros ainda pensam ser a mescla perfeita entre o Gótico e o Romantismo.
Use os botões para navegar entre as páginas do artigo.
Amante da literatura em geral, apaixonado pela BD desde a infância, a sua vida adulta passa-a toda rodeado de livros como editor. Outra das suas grandes paixões é o cinema e a sua DVDteca.
livro muito bom