AmadoraBD 2023: As Entrevistas Relâmpago 2 – 3 autores, 3 editores.
Na sequência do artigo “AmadoraBD 2023: As Entrevistas Relâmpago“, e a pedido de vários leitores, o Bandas Desenhadas regressou ao 34.º Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora mesmo no último dia para realizar as “Entrevistas Relâmpago 2”.
Mais uma vez, a adesão do público foi extraordinária. E se isso é muito bom para o mundo da Banda Desenhada, é, no entanto, mau para as “Entrevistas Relâmpago 2”. Os autores estão sempre ocupados com os autógrafos ou palestras; os editores não têm mãos a medir e o público tem mais que fazer do que dar dois dedos de conversa a este vosso repórter improvisado.
Depois de aguardar em longas filas de espera, enfrentar o calor tórrido do Festival, travar combates mortais pelas senhas que dão acesso aos autógrafos e esperar em jejum mais umas horas, o Bandas Desenhadas lá conseguiu as últimas seis “Entrevistas Relâmpago 2” da 34.ª temporada do AmadoraBD 2023. Mais uma vez, todas as “Entrevistas Relâmpago 2” aparecem pela ordem em que foram feitas.
OS AUTORES
VITOR CAFAGGI
(Turma da Mônica – Laços, A Seita)
Francisco Lyon de Castro: Quando era criança lia a Turma da Mônica?
Vitor Cafaggi: Lia, lia muito. Eu e minha irmã. Aliás, minha irmã é dez anos mais nova que eu e por isso eu lia para ela. Eram belos momentos de partilha. São memórias felizes que trazem uma enorme nostalgia aos dois ainda hoje.
FLC: Quando foram convidados para fazerem a Turma da Mônica, sentiram-se tentados a aproximar o vosso estilo do de Mauricio de Sousa?
VC: Sem dúvida! Na mesma noite em que recebemos o telefonema nos convidando, eu e minha irmã começamos de imediato a fazer esboços dos personagens e da história. Nos dias seguintes, começamos a ler as tiras originais da Mônica. Nessa altura (1963), o traço era muito anguloso e a Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali ainda iam evoluir um pouco. A Magali, por exemplo, era mais magrinha, as perninhas mais finas que os outros. Então, fui atrás desse Mauricio original – antes do traço ser compartilhado pelo estúdio – para poder criar o visual para a nossa história.
FLC: Última pergunta! Vão ter mais projectos com a Turma da Mônica?
VC: A gente no Brasil lançou três. Laços, Lições e Lembranças. Os dois primeiros até viraram filme. E depois fiz sozinho o Franjinha que saiu o ano passado no Brasil. O Franjinha é o personagem que mais gosto. E por enquanto são essas! Quando eu fiz Lembranças, eu falei que não ia fazer mais nenhum. Acabou vindo o Franjinha depois. Então não posso falar que não vai ter mais. Ideias para isso eu tenho. O Mauricio quer e o público também. Talvez daqui a dois anos, três.
FLC: Obrigado!
VC: Obrigado a você!
PENIM LOUREIRO
(Umbigo do Mundo, vols. 1 e 2, A Seita)
FLC: Posso fazer-lhe uma entrevista relâmpago?
Penim Loureiro levanta os olhos do álbum que está já aberto à sua frente e pergunta:
Penim Loureiro: Ainda tem alguém atrás de si?
No momento havia mais um fã e ele continua:
PL: Durante o tempo em que lhe faço a dedicatória.
FLC: Ficção Científica ou Alta Fantasia?
Penim Loureiro volta a erguer o olhar, assume uma posição como se tivesse todo o tempo do mundo e começa a falar.
PL: A ficção científica tem uma parte de fantasia. Mas este género que nós abordámos não é tanto pela vertente da fantasia, da especulação, do tentar imaginar como é que as coisas são no futuro. É um pretexto, de forma imparcial, de ter uma crítica do actual. O facto de estarmos perante uma época que já não nos diz respeito, intrinsecamente, deixa-nos mais libertos para fazer críticas de coisas que têm paralelo com a actualidade. A ficção científica aqui é só um pretexto para ser um livro actual
FLC: E a sua arte… tem alguma coisa a ver com um algoritmo?
PL: Riu, com o paralelismo da pergunta com a história. Isso é uma coisa para falar com o argumentista. Eu sou só o desenhador. Mas claro que sim! Há essa ideia da inteligência artificial, da possibilidade do aparelho que se ensina a si próprio. Mas sobretudo o conceito de que quando a máquina se alimenta a si própria, a certa altura há a possibilidade de se tornar inaplicável. A cópia da cópia da cópia pode fazer com que, a certa altura, o que resulta acaba em nada ser vantajoso, nada ser novo. E é um pouco o que acontece em o Umbigo do Mundo. Há um algoritmo que diz quais os acontecimentos que mais provavelmente vão acontecer e só vão acontecer se ninguém souber disso. Porque, a partir do momento em que as pessoas sabem disso, vão forçar esse acontecimento e vão interferir com os elementos que ele recolheu. Ou seja, ele próprio está a gerar a entropia, a gerar cenários que depois, ao serem lidos por outros, estão condenados a não se concretizar. É essa uma das ideias que passa por este livro.
FLC: Quando é que sai o último volume da trilogia Umbigo do Mundo?
PL: Estamos a fazer tudo para que saia no próximo ano aqui na Amadora.
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Amante da literatura em geral, apaixonado pela BD desde a infância, a sua vida adulta passa-a toda rodeado de livros como editor. Outra das suas grandes paixões é o cinema e a sua DVDteca.