Mulher Vida Liberdade, obra coletiva coordenada por Marjane Satrapi.
Em outubro, a Iguana publicou a obra coletiva Mulher Vida Liberdade, coordenada por Marjane Satrapi. Este livro foi originalmente lançado pela editora parisiense L’Iconoclaste em 14 de setembro de 2023, dois dias antes de ter passado um ano da morte da adolescente Mahsa Amini no Irão, devido ao uso incorreto do hijab.
Nesta obra, Satrapi reúne três especialistas sobre a temática – Farid Vahid (politólogo), Jean-Pierre Perrin (jornalista) e Abbas Milani (historiador) – bem como um conjunto de ilustradores que elaboram bandas desenhadas e/ou ilustrações – Bahareh Akrami, Bee, Catel, Coco, Deloupy, Hamoun, Hippolyte, Joann Sfar, Lewis Trondheim, Mana Neyestani, Nicolas Wild, Paco Roca, Pascal Rabaté, Patricia Bolaños, Shabnam Adiban, Touka Neyestani e Winshluss.
Há pouco mais de um ano, Mahsa Amini morreu às mãos da “polícia da moralidade” do Irão. Crime: uso incorreto do hijab, peça de vestuário que deve cobrir integralmente os cabelos. Agora, quando a memória da tragédia de Amini ainda está bem fresca, recebemos notícias de que Armita Garavand – uma adolescente de 16 anos – morreu depois de ter estado em coma profundo. Armita foi retirada inconsciente de uma carruagem do metropolitano em Teerão, depois de alegadamente ter sido atacada e detida pela referida polícia. Crime: cabelos descobertos no espaço público.
Marjane Satrapi, conhecida dissidente e autora de Persépolis, juntou vários artistas para denunciar a tirania iraniana e prestar homenagem a Mahsa Amini. O livro solidário é este, Mulher Vida Liberdade, que tomou como inspiração o slogan de resistência das mulheres iranianas contra o regime dos mullahs. Num momento, como se vê, mais urgente do que nunca.
A 16 de setembro de 2022, Mahsa Amini foi espancada pela polícia dos costumes no Irão por não estar a usar «corretamente» o véu e não resistiu aos ferimentos. A sua morte levantou uma onda de protestos em todo o país, transformando-se num movimento feminista sem precedentes. Pela primeira vez, de forma significativa, os homens iranianos – pais, maridos, companheiros, irmãos – aderiram ao protesto, quebrando de alguma forma o isolamento das mulheres contra um regime iníquo, instalado desde a revolução de fevereiro de 1979.
Reagindo ao assassinato e à onda de protestos subsequente, a artista Marjane Satrapi (autora de banda desenhada, tornada famosa desde a publicação do autobiográfico Persépolis) reuniu três especialistas – Farid Vahid (politólogo), Jean-Pierre Perrin (jornalista), Abbas Milani (historiador) – e dezassete dos maiores talentos da banda desenhada para dar a conhecer um movimento de enorme importância para o Irão e para todo o mundo.
Nas palavras da própria Marjane, a “morte de Mahsa suscitou uma vaga de protestos em todo o país. Essa vaga transformou-se numa revolução feminista, apoiada pelos homens. Uma estreia mundial! Sophie, a alma da editora L’Iconoclaste e minha querida amiga, queria agir a qualquer preço, não se contentando com o facto de se sentir ultrajada e indignada; desejava fazer algo de concreto por esta juventude iraniana que a sensibilizava tanto.” Assim nasceu a ideia para este Mulher Vida Liberdade. Com a participação ativa de Farid Vahid, politólogo e especialista no Irão da Fundação Jean-Jaurès; Jean-Pierre Perrin, durante muito tempo repórter do Libération e atual colaborador do Mediapart; e, por fim, o professor Abbas Milani, historiador e diretor de Estudos Iranianos na Universidade de Stanford, deu-se a primeira forma a esta novela gráfica politicamente empenhada.
Depois chegou a vez dos ilustradores que aceitaram fazer bandas desenhadas ou ilustrações a partir dos textos ou dos argumentos preparados pelos especialistas citados. Quatro ilustradores iranianos e treze outros europeus e americanos (entre os quais a artista Coco, sobrevivente do atentado terrorista ao Charlie Hebdo, em 2015). A própria Marjane, que abandonou há quase 20 anos o seu trabalho de autora de BD acabaria por compor páginas para este volume, incluindo a capa. Resultado: uma obra que foi publicada em simultâneo em vários países, com o propósito de chamar a atenção para esta causa diretamente relacionada com a dignidade e os Direitos Humanos. Devolvendo a palavra à organizadora: “Este livro tem duas intenções. A primeira consiste em explicar o que se passa no Irão, descodificar os acontecimentos na sua complexidade e nas suas nuances para um público não iraniano, dá-los a conhecer o melhor que conseguimos, mesmo que seja impossível explicar todas as facetas desta história. Porque está a acontecer. Mesmo que não se fale dela o suficiente. A segunda intenção deste livro é a de lançar um sinal aos iranianos para os lembrar de que não estão sozinhos. É verdade que os políticos do mundo inteiro mais não são do que políticos, é verdade que nada farão pelo povo iraniano, mas a sociedade civil no Ocidente, essa, está empenhada em trabalhar ao lado dele. Prova disso é que a maior parte dos artistas que participaram neste projeto é ocidental. Que maior apoio haverá por parte de um artista do que a sua arte?”.
Marjane Satrapi cresceu em Teerão. Estudou Belas Artes, e aos vinte e quatro anos, decidiu mudar-se para França. Foi lá que escreveu Persepolis, uma banda desenhada que relata a sua juventude marcada pela revolução e pela guerra no Irão, o seu desenraizamento pessoal e a sua chegada à Europa. A saga autobiográfica vendeu vários milhões de exemplares e foi traduzida em mais de cem línguas a presente obra foi lançada. Marjane afastou-se então da banda desenhada para se dedicar ao cinema e à pintura. Atrás da câmara, frente à tela ou nas bandas desenhadas, a artista enaltece o pensamento independente e a luta quotidiana pela liberdade. Desde setembro, tem movido os céus para apoiar a revolta iraniana.
Mulher Vida Liberdade
VÁRIOS AUTORES
Coordenação: Marjane Satrapi
Editora: Iguana
Páginas: 288, a cores
Encadernação: capa dura
Dimensões: 170 x 240mm
ISBN: 9789897872594
PVP: 27,75€
Fundador e administrador do site, com formação em banda desenhada. Consultor editorial freelance e autor de livros e artigos em diferentes publicações.