The Electric State

The Electric State

the electric state

The Electric State, da autoria de Simon Stålenhag.

Em novembro, a ASA editou o livro The Electric State, da autoria do sueco Simon Stålenhag. Stålenhag tornou-se internacionalmente conhecido em 2013, após a revista norte-americana The Verge ter publicado imagens das suas paisagens suecas, nas quais elementos familiares, como modelos detalhados de carros antigos, eram misturados com robôs, naves voadoras e grandes instalações de pesquisa. O resultado foi uma partilha viral das mesmas.

A partir do ano seguinte, a editora sueca de jogos de RPG e livros Fria Ligan começou a publicar os livros de Stålenhag – Ur varselklotet (2014), Flodskörden (2016), Passagen (2017), Urtidsbilder (com a jornalista científica Anna Davour; 2019) e Labyrinten (2020) -, os quais foram conhecendo edições internacionais nos mais diversos países.

O livro Ur Varselklotet, foi adaptado a um jogo de RPG (2017) – cuja edição internacional se intitula Tales from the Loop – e a uma série de 8 episódios para a Prime Video (2020). Ao contrário deste livro e do livro onde foi publicada a sequela, Flodskörden, Tales from the Loop passa-se nos EUA e não na Suécia.

Pelo contrário, o livro Passagen, internacionalmente conhecido como The Electric State (e tendo a ASA chegado a equacionar publicar no nosso país com o título “O Estado Elétrico”), tem lugar nos EUA. No ano do seu lançamento na Suécia, Stålenhag produziu um álbum de música eletrónica homónimo, elaborado enquanto a banda sonora do livro, tendo a sua carreira musical prosseguido com o lançamento dos álbuns Music for DOS (2018), Music for Stanic Children (2021) e a banda sonora do livro Labyrinten (2021).

The Electric State tem planeado para 2024 o lançamento de uma adaptação para filme na Netflix, contando com a realização dos Irmãos Russo, guião de Christopher Markus e Stephen McFeely (As Crónicas de Nárnia, vários filmes do Universo Cinematográfico Marvel, série televisiva Agente Carter) e as interpretações de atores como Mille Bobby Brown (Stranger Things), Chris Pratt (Guardiões da Galáxia), Ke Huy Quan (Indiana Jones e o Templo Perdido, Os Goonies, Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo, American Born ChineseAmericano da China, Loki), Jason Alexander (Seinfeld), Brian Cox (Succession), Jenny Slate (Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo), Giancarlo Esposito (Breaking Bad, Better Call Saul), Anthony Mackie (O Falcão e o Soldado do Inverno) e Billy Bob Thorton (série Fargo), entre outros.

A adaptação do livro The Electric State para filme refere frequentemente que o livro de Stålenhag se trata de uma graphic novel. De facto, como referimos no artigo “Da porcaria das novelas gráficas“, “se a popularização do termo graphic novel permitiu aos norte-americanos abraçarem o meio de outro modo que não o de mero entretenimento de crianças e jovens, de combaterem a noção de se tratar de uma arte menor ou de sublinhar que engloba muitos mais géneros que a comédia/humor (comics), rapidamente a indústria, incluindo as editoras com maior quota da banda desenhada de super-heróis no  mercado, respondeu com uma tentativa de generalização do termo a qualquer BD que fosse apresentada, incluindo as antologias e as BD de não-ficção (em dissonância com o termo novel/romance), com um formato mais semelhante ao de um livro do que uma revista (…). Por outro lado, o que significa um livro ser um romance/novela gráfico(a)? Se o termo «arte sequencial», aparentemente em desuso, se revelou de interesse relativo, também a semântica de graphic novel em nada obriga que estejamos a nos referir a uma BD. Nessa linha de pensamento, uma compilação das diferentes partes de uma fotonovela publicada na extinta revista Crónica Feminina seria uma graphic novel. E não será por acaso que, inclusivamente, este termo é, por vezes, aplicado a livros infantojuvenis, cujas ilustrações possam ter ou não alguns dos códigos habituais da BD, como por exemplo os balões”.

Se o artigo supramencionado foi escrito em 2015, permanece atual, e à citação selecionada apenas carece, obviamente, de ser acrescentado que os livros ilustrados denominados de graphic novels não têm de ser destinados a crianças e jovens, podendo-o ser a qualquer faixa etária. Aliás, como se refere no próprio artigo “o termo graphic novel não significa mais do que livro de BD (e nalguns casos, nem isso, apenas livro ilustrado)”.

A utilização do termo graphic novel/novela gráfica/romance gráfico em livros de banda desenhada e naqueles que não o são é, atualmente, mais um posicionamento do marketing relativo a uma obra. A percentagem de vezes que é utilizado varia muito de país para país, consoante a popularidade do termo, bem como da aceitação e próprio significado etimológico do termo com que é designada a banda desenhada em cada país. Cada novo termo para designar a BD, coloca em causa o que pode ser abrangido ou não pelo mesmo (assim como a “arte sequencial” potenciava a exclusão do cartoon e a inclusão da fotonovela, o termo “romance gráfico”, em princípio poderia excluir as narrativas curtas em banda desenhada, bem como as de não-ficção, por exemplo). No entanto, com o atual poder inigualável do marketing, o que se tem assistido é que “graphic novel” é o que cada editora ou indústria assim o entender, em determinado momento, para um produto em particular.

Em Portugal, por vezes, determinados livros que não são de banda desenhada são posicionados como novelas gráficas. Assim como, em direção oposta, por vezes se assiste a que determinados livros de banda desenhada infantojuvenil, não são posicionados nem como novelas gráficas nem como BD (evitando-se, ao máximo, qualquer alusão aos termos) mas sim como literatura infantojuvenil.

Por outro lado, no nosso país, são frequentemente editados livros ilustrados nos quais a barreira entre o que é ou não banda desenhada se encontra extremamente esbatida, alguns dos quais têm sido alvo de reflexão sobre esse assunto no site Bandas Desenhadas. Em The Electric State, estamos perante um livro cujas imagens ocupam a página inteira, página dupla ou página e meia, existindo por vezes uma (normalmente, breve) sucessão de páginas sem texto. No entanto, o longo texto em prosa está quase omnipresente ao longo de toda a obra, sendo a sua estrutura de uma natureza muito distinta para que pudesse ter a equivalência aos cartuchos, o texto intercalado entre as vinhetas.

A própria ASA, numa equivalência de “graphic novel” ao nosso termo banda desenhada, tem designado The Electric State de BD. Dada a má preparação e escassez de massa crítica, ao invés de tal gerar uma discussão salutar sobre as barreiras entre o livro ilustrado e a banda desenhada (inclusivamente, se as próprias barreiras são importantes ou não), tem-se frequentemente assistido nos meios de divulgação a uma aceitação deste termo da editora para a obra, quando muito com um ou outro comentário relativo à “diferença” desta «banda desenhada».

A nós, parece-nos óbvio que este livro não é de banda desenhada. É uma graphic novel/romance gráfico/novela gráfica? Como referimos quanto à nossa posição quanto a esse termo oco/vazio, não vemos porque não pode ser e não temos dúvida que tal designação é importante para a indústria cinematográfica norte-americana. Dito isto, mais importante sobre como designar a obra, era discutir o tópico.

Em 1997, uma adolescente fugitiva e o seu robô de brinquedo amarelo viajam para oeste por uns EUA insólitos. As ruínas de gigantescos drones de combate cobrem o interior, amontoadas com o lixo descartado de uma sociedade consumista de alta tecnologia em declínio. À medida que o seu carro se aproxima da fronteira do continente, o mundo fora da janela parece estar a desfazer-se cada vez mais depressa – como se, algures para lá do horizonte, o núcleo oco da civilização tivesse finalmente cedido.

Simon Stålenhag (n. 10 de janeiro de 1984) é um autor, designer e artista sueco, internacionalmente aclamado por livros como Tales from the Loop e Things from the Flood. As suas imagens e histórias altamente imaginativas, retratando fenómenos ilusórios de ficção científica em paisagens escandinavas mundanas e hiperrealistas, fizeram de Stålenhag um dos contadores de histórias visuais mais procurados do mundo. Em The Electric State, Stålenhag volta a sua visão única para a América.

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