Companheiros da Penumbra evocam memórias da noite portuense.
Enquanto escrevo estas linhas, após ter lido o Companheiros da Penumbra de um trago, ouço os The Mission.
Estou a recordar tempos idos do Porto antigo. Não vou dizer que não tenho saudades deste Porto, menos turístico e sem rede. Mais bruto, duro, escuro e sujo.
Contudo, cheio de ressacas, cusquices e falatórios, ehehe. Nunsky é profissional a contar estas memórias, virtuoso no desenho e, acima de tudo, um apaixonado por música.
Um apaixonado com os pés na terra.
Conheci mal o Heaven´s. Fui lá meia dúzia de vezes mas reconheci-o logo pelo desenho e o mundo gótico, pelas roupas, pela filosofia e música.
Não conheço bem e, como já disse a algumas pessoas, cheguei a ir ao Heaven´s de cor de rosa, o que parecia ser quase uma blasfémia.
Todavia, Nunsky retrata-nos o lugar de uma forma extremamente verosímil e pareceu-me sempre ter o cuidado em não magoar em vão, sem querer ferir as pessoas à sua volta e isso é muito à Porto. Por contradição.
É um “burgo”, ou era, algo de bairro e de culto que se manteve durante algumas gerações. Seja no Heaven´s , no Palha d´Aço, Meia Cave, Saloon e Pipas. Algo de familiar.
Depois de um performance gótica, nada como uma boa tosta mista à Heaven´s com meia dúzia de batatas fritas. E sem esquecer o santinho no bar. Não sei se era um São João ou outro santo padroeiro; todavia, era saboroso ver todo aquele negrume com um santinho no bar. Sempre me deu vontade de rir.
A música está omnipresente e isso é mesmo o fio condutor. Não esquecendo alguns concertos falhados e uma casa que não reconheci o lugar mas “cheira-me” ser a caminho da Afurada. Ah, o mundo gótico, a curiosidade felina, a indumentária e toda aquela produção para sair! Valia mesmo muito. E nota-se na narrativa, com bastante humor.
“Venham mais cinco!” ou então não, venha a noite e… well, logo se vê…
Companheiros da Penumbra
NUNSKY
Editora: Chili Com Carne
Páginas: 300, a preto
Encadernação: capa mole com badanas
Dimensões: 19 x 26 cm
PVP: 20,00€
Costumava desenhar de joelhos, com os braços em cima da cama quando era pequenita e mais tarde numa mesa de escola. Os joelhos agradeceram. Cresci com banda desenhada e criei o fanzine “durtykat” em 2001. Viajei quase à pala e fui colaborando e comunicando através de desenhos, nascendo assim as Nits, em 2014. Voltei a desenhar de joelhos mas eles não se têm queixado. A última exposição foi na Galeria Mundo Fantasma, no Porto, no ano de 2019.