Análise de Noir Burlesco, vol. 2.
O título que se deu ao presente artigo foi “Noir Burlesco 2: Estilo e Ousadia num Marini Noir!”
Por uma questão de facilidade e até de conforto mental, o homem é sempre tentado a compartimentar. A vida parece mais fácil se dividirmos o conceito de História em grandes épocas: Pré-História, Pré-Clássica, Clássica, Idade Média, Idade Moderna, Idade Contemporânea. Mas, e daqui a 100 ou 200 anos, qual será a classificação?
E o que é que isto tem a ver com Noir Burlesco 2 (cf. sinopse e previews da edição nacional aqui)?
O mesmo se passa no mundo cinematográfico ou da Banda Desenhada, nos quais, invariavelmente, somos confrontados com a classificação Época de Ouro, Época de Prata e Época Moderna (se bem que esta última se mantem em discussão). E a próxima, qual será?
Ora, na verdade, em História muitos factos definidores de uma época diluem-se no tempo, de tal modo que dificultam a divisão por grandes épocas. É por isso, por exemplo, que o fim da Idade Média e começo da Idade Moderna não reúne o consenso dos historiadores.
Pois, na Banda Desenhada, a situação parece-me ser bem mais complexa. Tendencialmente, define-se a Época de Ouro como tendo início um pouco antes do estalar da Segunda Guerra Mundial e estendendo-se até meados dos anos 50 do século XX. É a época em que surgem na Europa o Tintin (mesmo uns anos antes), Blake e Mortimer, Alix, Lucky Luke, Spirou ou Astérix, entre tantos outros. E nos Estados Unidos é o tempo do Super-Homem, do Batman, da Mulher Maravilha e da Justice Society of America.
E o que é que isto tem a ver com Noir Burlesco 2?
De há uns anos para cá, parece-me estarmos numa segunda Época de Ouro. As séries de antigamente ganharam novo fôlego. Velhos heróis fazem as delícias das mais recentes gerações. E, sobretudo, uma “fornada” de novos autores, entre argumentistas e desenhadores, dá cartas juntamente com aqueles da velha escola que se conseguiram reinventar.
Sem dúvida que Enrico Marini está entre a nova fornada e aqueles que se conseguiram reinventar. O seu Escorpião mantém-se no activo; o seu Águias de Roma acaba de ver editado novo volume em França; o seu Batman ainda faz furor; e o seu novo díptico acaba de ver publicado em Portugal o último volume de Noir Burlesco, novamente numa coedição entre a Arte de Autor e A Seita. É! Marini é um dos grandes contribuintes para esta nova Época de Ouro.
Para aqueles que ainda não leram o primeiro volume, aconselho a leitura do artigo “Noir Burlesco – O Noir Perfeito e a Onomatopeia Muda!“
Para aqueles de entre vós que já se deliciaram com a primeira parte de Noir Burlesco…
Vamos à história!
O gelo ainda tilinta no copo de whisky enquanto se derrete com o calor da mão de Slick.
A hora vai alta na noite quando o grupo se reúne na mansão de Rex, o chefe da mafia irlandesa. Ele tenta convencer Slick a trabalhar para si e a vingar o assassinato do seu pai e a queda da sua mãe na prostituição às mãos de Don Zizzi, chefe da mafia italiana. Mas a Slick não o move qualquer sede de vingança. Na verdade, para Rex é uma questão territorial: Don Zizzi está a começar a ocupar-lhe território. É preciso dar-lhe uma lição!
Slick não está inclinado a ser o ponto de origem de uma guerra entre chefes do crime. Mas Rex tem um plano e foi Caprice que o convenceu a usar Slick. Don Zizzi amava a mãe profundamente e quando do falecimento desta, mandou pintar um retrato dela com as suas cinzas. Este é o bem mais precioso de Don Zizzi que Rex quer que Slick roube. E caso este pense traí-lo, Rex ameaça fazer uma visita à irmã e à sobrinha de Slick. Para mais, o nosso herói estará sempre acompanhado pelo bando de degenerados de Rex.
Uma semana é o tempo que Rex dá a Slick para executar o seu plano.
A tudo, parecendo um mero elemento decorativo, assiste a ruiva Caprice, no seu vestido de noite que se cola às formas generosas do seu corpo. Mas ela sabe que os seus dias com Rex estão contados, que o primo dele quer a cabeça de Slick a todo o custo e que ela própria poderá ser eliminada…
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Amante da literatura em geral, apaixonado pela BD desde a infância, a sua vida adulta passa-a toda rodeado de livros como editor. Outra das suas grandes paixões é o cinema e a sua DVDteca.