Pobres Criaturas: Crítica. Estreia 25 de janeiro!

Pobres Criaturas: Crítica. Estreia 25 de janeiro!

pobres criaturas - poor things

Crítica ao filme Pobres Criaturas, realizado por Yorgos Lanthimos.

Uma das frases mais citadas de Alasdair Gray, conspurcada em fórmula de autoajuda ou diminuída a ilustração de posters “motivacionais”, é precisamente retirada do romance de 1992, Poor Things: “A life without freedom to choose is not worth having”, “Não vale a pena viver uma vida sem liberdade de escolha”. Poderemos dizer ser este o assunto da versão cinematográfica de Yorgos Lanthimos, com o título português de Pobres Criaturas (2023)? Se considerarmos a produção anterior deste cineasta, vislumbrar-se-ão assuntos e mecanismos recorrentes: as tensões entre a liberdade das suas acções no mundo e a consciência da própria pessoa, a imposição de regras externas (societais, parentais, expectativas) e o escopo da vontade (interna, pulsional, indomável), ou por outras palavras (gregas, já agora), entre pólis e demos. Se a liberdade de acção for total, haverá escolha? Mas e se a escolha for coartada até a um ponto de obrigação na decisão, haverá nela liberdade?

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O filme tem uma estrutura relativamente simples. Uma personagem feminina, Bella Baxter, vai descobrindo o mundo à medida da sua educação pela figura parental. O choque da aprendizagem da sua própria história leva-a a aceitar algumas regras mas igualmente à fuga, que a faz atravessar o mundo, para o descobrir largo, imenso, aberto. E depois regressa a casa, decidida ao equilíbrio entre as expectativas dos outros e as suas.

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Quando se fala em adaptações, sejam de que meios de partida forem para que meios de chegada forem, e por vezes, como veremos, poderá mesmo ser um trânsito no interior de um só meio, há toda uma série de perguntas que somos tentados a colocar. Devemos, todavia, evitar que a resposta negativa a algumas dessas perguntas possuam em si mesmas um juízo de valor sem discussão. Por exemplo, é muito fácil perguntarmos, numa adaptação de obra literária para uma cinematográfica, se há “fidelidade”. Mas essa é uma operação que muitas vezes confunde a fidelidade da passagem dos “episódios narrativos”, os elementos constitutivos da intriga, ponto por ponto, com a do seu assunto e tratamento, isto é, o seu fito mais filosófico. Uma atitude mais interessante será desdobrar essa pergunta em duas, relacionadas mas distintas no seu foco. A primeira é: persegue a nova versão as mesmas questões e chega às mesmas respostas que a obra original? A segunda é: é a nova versão uma obra de qualidade da sua própria disciplina como a original seria na sua?

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Para responder à segunda, podemos relembrar dois exemplos muito simples: The Birds de Alfred Hitchcock (1966) e Die Hard de John McTiernan (1988). O realizador britânico pegou num conto da escritora Daphne Du Maurier, respeitada sobretudo em círculos em torno de narrativas de horror psicológicas, e cuja fama se foi multiplicando graças ao cinema. E o romance thriller de Roderick Thorp, apreciado pelos cultores do género, daria origem a um dos action films charneira dos anos 1980. Mas penso que será consensual dizer que, no caso dos textos fílmicos, estamos perante obras maiores (mesmo que queiram reduzir, sobretudo Die Hard, a um circuito limitado pelo género, mercado, etc.), ao passo que no que diz respeito aos textos literários se tratam de exemplos competentes, mas menos extraordinários, dos seus campos respectivos.

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