Entrevista a Júlio Moreira, a propósito da inauguração da Bedeteca no Porto.
Nuno Pereira de Sousa: A Bedeteca teve direito à sua inauguração no dia 10 de fevereiro. Qual a importância deste novo serviço na região?
Júlio Moreira: O Porto foi pioneiro na criação de uma biblioteca de Banda Desenhada mas, por diversas razões, esta iniciativa perdeu-se e foi recuperada agora. Para nós é importante esta iniciativa e temos muito gosto em propor este serviço à região porque achamos que é importante para a BD que este exista e acreditamos que a sua existência criará leitores. Logicamente que o inverso é também verdade; acreditamos que a BD é um meio muito importante e com potencial para a criação de hábitos de leitura e logicamente é fundamental que existam serviços destes disseminados pelas regiões. Este é o nosso contributo para esse objetivo.
Nuno Pereira de Sousa: Em que medida esta nova Bedeteca é uma continuação da Bedeteca criada na década de 90 no âmbito da Comissão de Jovens de Ramalde (CJR)?
Júlio Moreira: Na medida em que o acervo existente foi recuperado quase integralmente, o que permite, num projeto privado e sem grandes meios, um bom início. Por outro lado, há todo um historial associado aos projetos cuja génese foi o fanzine Comicarte e onde nós, os responsáveis deste novo projeto, nos inserimos.
Nuno Pereira de Sousa: Tendo o projeto se encontrado em hibernação por várias décadas, como foi possível à atual Bedeteca herdar o acervo da antiga bedeteca da CJR?
Júlio Moreira: Foi estabelecido um protocolo com a CJR, e envolvendo os responsáveis pela criação da Bedeteca de 1990, que permitiu essa recuperação.
Nuno Pereira de Sousa: Neste momento, quantas publicações já estão disponíveis? E o que seria de destacar, dada a raridade ou difícil acesso?
Júlio Moreira: Ainda estamos em processo de inventariação, catalogação e inserção em base de dados consultável – no caso, a partir do programa Library Things – mas a nossa estimativa é a de um número inicial de cerca de 4000 títulos que, rapidamente, julgamos será duplicável; temos já bastantes doações, quer de editores nacionais, quer de particulares. O que eu destacaria é um acervo de cerca de 500 fanzines – dos anos 70 aos 90 – que traçam um retrato da dinâmica criativa da BD do fim do século XX, e algumas revistas periódicas, nomeadamente a (À Suivre), que foi um título fundamental desse período na história da BD mundial e de que temos quase a coleção toda – faltam cerca de 6 números.
Nuno Pereira de Sousa: Quais as vantagens da Bedeteca se alicerçar num trabalho privado em prol do bem público?
Júlio Moreira: A vantagem de se tratar de um trabalho privado, não é o facto de este ser privado, mas sim de ser – por via disso – independente. A grande vantagem é que é conduzido por verdadeiros entusiastas e conhecedores da BD e do meio o que permite ter um olhar mais cirúrgico e afinado para os desenvolvimentos que entendemos interessantes para um projeto deste tipo.
Nuno Pereira de Sousa: Qual é a política de consulta e de empréstimo das obras que constam do acervo da Bedeteca?
Júlio Moreira: Para já, a consulta será apenas no local. No futuro, queremos possibilitar a leitura domiciliária, mas há ainda desenvolvimentos que temos de atingir para tal ser possível.
Nuno Pereira de Sousa: Estão previstas trocas entre Bibliotecas?
Júlio Moreira: De momento, não temos previsto qualquer troca entre bibliotecas. Mas é um campo em que vemos algumas possibilidades e em que temos algumas ideias.
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Fundador e administrador do site, com formação em banda desenhada. Consultor editorial freelance e autor de livros e artigos em diferentes publicações.