Painel de Frank Cho e Mike Grell na Comic Con Portugal 2024.
O Painel de Frank Cho e Mike Grell na Comic Con Portugal 2024 teve lugar no dia 22 de março, às 17h00, no The One Theatre, com moderação da minha pessoa, Nuno Pereira de Sousa.
Foi o segundo e último painel de banda desenhada no The One Theatre na edição deste ano da Comic Con Portugal, tendo, mais uma vez, a equipa técnica se revelado extremamente empenhada para proporcionar um excelente painel aos convidados e visitantes do evento.
Atendendo ao título do painel ser “Heróis da Marvel e da DC” e os autores terem direito a mais painéis a solo durante o evento, optou-se por concentrar então o painel nas obras que os autores produziram para aquelas duas editoras, prevenindo, de qualquer modo, o público de que, no espaço dedicado às perguntas da audiência, não teriam de respeitar a temática e poderiam colocar questões relacionadas com todas as bandas desenhadas dos autores e não somente as editadas pela Marvel e DC.
Mike Grell, natural do Wisconsin, contou-nos que, aos 16 anos, após experimentar a dura profissão de lenhador, como o pai, sentiu-se bastante motivado para procurar outras profissões. Apesar de ter um interesse especial por arquitetura, não se sentia confortável com a matemática, pelo que optou pela arte comercial, tendo iniciado os estudos na Universidade de Wisconsin. Um ano depois, decidiu que o melhor rumo seria desistir e ingressar numa escola de arte privada que lhe proporcionasse diretamente treino na ilustração, mas, nessa altura, teve de decidir se iria cumprir o serviço militar na Guerra do Vietname ou se se alistava durante 4 anos na Força Aérea dos EUA, tendo optado por esta última. Foi na Força Aérea que conheceu um colega que o aconselhou a esquecer a arte comercial e se tornar um autor de banda desenhada, porque segundo ele, os autores de BD trabalhavam apenas 2 ou 3 dias por semana e ganhavam um milhão de dólares por ano. Grell gracejou que a indústria de BD lhe deve, então, imenso dinheiro e tempo livre. Enquanto se encontrava colocado em Saigão, fez um curso de banda desenhada por correspondência na Famous Artists’ School e, após a Força Aérea, Grell ingressou na Chicago Academy of Fine Art. Após ter sido assistente de Dale Messik numa tira de BD publicada nos jornais, distribuída então pelo Chicago Tribune New York News Syndicate, Grell revelou que para trabalhar para a Marvel ou DC se tinha de ir a Nova Iorque, o que fez durante a New York Comic Con 1973, tendo o seu portefólio sido apreciado por Irv Novick e Allan Asherman, que lhe deram a indicação de que deveria agendar uma reunião com Julie Schwartz. Após essa reunião, onde Schwartz avaliou o seu portefólio, Grell iniciou a sua longa colaboração com a DC Comics, tendo se mudado para Nova Iorque.
Frank Cho também revelou ao público como a Marvel teve interesse em contratá-lo, após Universidade² (publicada em Portugal pela VitaminaBD, em 2002). Universidade² foi uma tira que Cho publicou no jornal de estudantes da Universidade de Maryland, onde se graduou em enfermagem por insistência dos pais, algo que sempre detestou. A tira Universidade², com algumas alterações, transformou-se na tira Liberty Meadows, originalmente distribuída em jornais através da Creators Syndicate, tendo originado que o autor sentisse pela primeira vez a censura editorial. O seu trabalho atraiu a atenção de Axel Alonso, que acabou por convidá-lo para relançar a personagem Shanna, A Mulher-Demónio, numa minissérie, escrita e desenhada por Cho. Era suposto a série conter nudez e ser lançada sobre a chancela MAX (destinada a leitores com mais de 18 anos), mas a Marvel mudou de ideias e lançou-a sob a chancela Marvel Knights, pelo que Cho teve de censurar e redesenhar todas as vinhetas com nudez. Na sua opinião, entre a altura que lhe propuseram o projeto e a altura de publicação, a Marvel tinha decidido tornar-se mais apelativa para uma potencial aquisição pela The Walt Disney Company, e a chancela MAX seria algo a cancelar.
A propósito da censura, Cho explicou como toda a controvérsia relacionada com a capa de Spider-Gwen em 2015, que homenageava uma polémica capa da Mulher-Aranha de Milo Manara, ajudou a sua carreira. Cho explicou que, não fazendo nada de diferente na forma como ilustrar as mulheres desde que iniciou a sua carreira, de repente, naquela altura, deixou de ser um artista de valor reconhecido para passar a ser atacado como misógino. Refere ainda que a sua resposta foi alimentar a polémica, desenhando ainda mais capas semelhantes. O resultado foi que, com a controvérsia, houve muitos utilizadores das redes sociais que foram verificar qual a razão de tanto burburinho e descobriram o seu trabalho enquanto ilustrador, tendo o seu número de seguidores crescido exponencialmente. Paralelamente, passou também a ter mais ofertas a nível de trabalho. Cho demonstrou-se, então, bastante desagradado com a censura norte-americana no que toca à nudez, permitindo, no entanto, que sejam mostradas cenas particularmente violentas, referindo que se revê mais na posição europeia, mais tolerante na questão do corpo nu. E referiu ainda que não se trata de uma questão partidária, pois tem sido atacado por movimentos políticos de ideologias opostas.
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Fundador e administrador do site, com formação em banda desenhada. Consultor editorial freelance e autor de livros e artigos em diferentes publicações.