Entrevista 1 to 1 a Juan Díaz Canales na Comic Con Portugal 2024

Entrevista 1 to 1 a Juan Díaz Canales na Comic Con Portugal 2024

Entrevista 1 to 1 a Juan Díaz Canbales

Entrevista 1 to 1 a Juan Díaz Canales na Comic Con Portugal 2024.

Como sabem, o vosso site Bandas Desenhadas esteve presente na Comic Con Portugal 2024. Participámos directamente em vários eventos e, para mim, um dos mais interessantes foi um conjunto de entrevistas que a organização nomeou de 1 to 1. São entrevistas mais intimistas, feitas num espaço reservado, longe do bulício constante da Comic Con, com o apoio de uma equipa técnica fantástica que se torna invisível na hora H. Estes 1 to 1 ou cara a cara ocorreram todos no dia 23 de Março (no que ao Bandas Desenhadas diz respeito), com uma duração de cerca de 10 minutos, e o primeiro foi com o simpático e muito acessível Juan Díaz Canales. Eis, então, a entrevista 1 to 1 a Juan Díaz Canales.

Francisco Pedro Lyon de Castro: Como entrou no mundo da Banda Desenhada?
Juan Díaz Canales: Curiosamente, entrei pela via da animação. Eu e o Juanjo Guarnido, que já éramos amigos na altura, trabalhávamos num estúdio de animação em Madrid. Passados uns tempos, o Juanjo assinou um contracto com o Walt Disney Studios em França e eu fiquei em Espanha, no meu estúdio, a realizar séries de animação para a televisão e filmes de animação. Depois do Juanjo deixar a Disney, voltámos a encontrar-nos e a retomar a nossa amizade. Daí em diante, entrámos no mundo da Banda Desenhada e lá estamos, até hoje.

FPLC: A série Blacksad partiu de uma ideia sua ou dos dois?
JDC: Na verdade, começou por ser uma ideia minha. Entusiasmei-me com a ideia de um gato detective e escrevi e desenhei uma história curta que acabei por mostrar ao Juanjo. Ele ficou igualmente entusiasmado com a ideia e começou a desenvolver a arte enquanto eu escrevia o primeiro argumento de Blacksad. Claro que teria de ser ele a desenhar Blacksad – é muito melhor que eu! (risada) Depois, com os contactos que tinha feito durante o seu trabalho em França, ele conseguiu, ao final de algumas tentativas, a atenção da Dargaud que, entretanto, tem sido a editora de toda a série desde o ano 2000.

FPLC: Blacksad, embora seja um policial noir, aborda sempre questões sociais como o racismo, a corrupção nos cargos públicos, pedofilia, o flagelo das drogas, entre outros. Foi uma ideia que tiveram desde o início? E vão continuar a abordar temas mais complexos?
JDC: A resposta às duas perguntas é sim! Para mim, o policial noir é um género muito especial que me permite abordar todas essas questões sociais. Desde logo, as histórias são passadas durante um período muito rico da história dos EUA – as décadas de 40 e 50 do século XX. Este período do pós-guerra é uma altura de grandes mudanças na sociedade que deixam antever as mudanças ainda maiores que se vão operar durante a década de 60 – por exemplo, a questão da segregação racial. E depois, o género noir permite que, em voz-off, o protagonista narre e comente estas questões, aumentando não apenas a densidade dramática como a crítica “filosófica” a esses temas sociais.

FPLC: E depois, Corto Maltese! Que grande responsabilidade, a de seguir os passos de Hugo Pratt?!
JDC: Sim! Tanto eu como o Rubén [Pellejero] sentimos essa responsabilidade quando fomos contactados pela Patrizia Zanotti [responsável pelos direitos do Corto Maltese] a dizer que tínhamos sido escolhidos para fazer um novo álbum do mais conhecido herói de Pratt. Deve imaginar a nossa reacção de entusiasmo e, ao mesmo tempo, de respeito. Só vinte anos após a morte de Pratt é que surge uma nova aventura de Corto Maltese, a nossa Sob o sol da meia-noite.

FPLC: Qual a inspiração para as novas aventuras de Corto Maltese?
JDC: Bom! Primeiro tem de se conhecer a cronologia da vida e das aventuras de Corto Maltese. Há coisas que não vale a pena abordar pois já foram tratadas com grande detalhe por Hugo Pratt – por exemplo, o período da Primeira Guerra Mundial. Depois, tem de se conhecer bem o personagem e as suas principais características. Corto Maltese é um aventureiro por natureza e um viajante. Tendo isto em consideração e o período em que viveu, o limite é a minha imaginação. E, felizmente, tenho carta branca da editora para escrever os meus argumentos. Tem sido uma aventura muito gratificante e a inspiração advém do próprio personagem criado por Pratt.

FPLC: Muito obrigado pelo seu tempo e pela sua simpatia.
JDC: Eu é que agradeço.

E depois seguiu-se a primeira fotografia cara-a-cara que planeei tirar com todos os autores das entrevistas 1 to 1. Prova de fogo, de longos segundos, estar olhos nos olhos com alguém que se acaba de conhecer. Como podem ver, o que observam num flash fotográfico é o que aconteceu durante esses longos segundos – olhámos um para o outro, fixamente, divertidos e sorridentes.

Estas “missões” do Bandas Desenhadas são um verdadeiro privilégio!

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