Entrevista 1 to 1 a Daniel Henriques na Comic Con Portugal 2024.
Como já foi dito em artigo anterior (ver Entrevista 1 to 1 a Juan Díaz Canales…), o vosso Bandas Desenhadas participou directamente em vários eventos na Comic Con Portugal 2024 e, para mim, um dos mais interessantes foi um conjunto de entrevistas que a organização nomeou de 1 to 1. São entrevistas mais intimistas, feitas num espaço reservado, longe do bulício constante da Comic Con, com o apoio de uma equipa técnica fantástica que se torna invisível na hora H. Estes 1 to 1 ou cara a cara ocorreram todos no dia 23 de Março (no que ao Bandas Desenhadas diz respeito), com uma duração de cerca de 10 minutos, e o segundo foi com o sereno e bem-sucedido Daniel Henriques. Eis a entrevista 1 to 1 a Daniel Henriques na Comic Con Portugal 2024.
Francisco Pedro Lyon de Castro: Como é que chegou à competitiva indústria dos comic books dos EUA?
Daniel Henriques: Pelo Facebook [diz de forma singela]. O Danny Miki [Image, DC, Marvel] viu o meu trabalho feito em Portugal e contactou-me via Facebook a convidar-me para integrar o seu estúdio Crime Lab Syndicate. Aí, comecei a arte-finalizar vários títulos da Marvel, da DC, da Image e da Dark Horse.
FPLC: Foi uma entrada em grande! E tudo à custa do Facebook! E, trabalhando com essas editoras e mais umas quantas, qual é a sua favorita?
DH: As minhas favoritas são a Frank Miller Presents e a Todd McFarlane Productions. Tanto o Frank Miller como o Todd McFarlane são óptimas pessoas para se trabalhar. Quando conheci o Frank, eu estava nervoso, mas ele pôs-me de imediato à vontade. Com o Todd foi a mesma coisa, ainda para mais porque é o criador de um dos meus personagens favoritos, o Spawn.
FPLC: Se só pudesse escolher um dos dois, qual seria o eleito?
DH: Escolha difícil! Eu adoro trabalhar com os dois, mas a nível de ídolos e impacto na minha carreira o McFarlane foi o que teve o maior impacto, sem dúvida, no meu percurso. Até porque só li trabalhos do Miller anos depois de ser apresentado ao Spawn. De um modo geral, o Miller é considerado um argumentista incontornável, mas, a verdade, é que, a nível de trabalho, tem sido um prazer absoluto trabalhar com ambos. Ambos deixam-me à vontade para trabalhar e é muito gratificante colaborar com eles. Acaba de ser publicado o meu último trabalho no Ronin: Book II de Frank Miller, onde finalizei os seus desenhos e do Philip Tan. E estou a trabalhar no universo do Spawn…
FPLC: Até à data, qual o projecto que mais o entusiasmou?
DH: Sem dúvida, a série No Home Here. É um projecto muito especial pois situa-se no universo do Spawn e é o primeiro em que o argumento é da minha responsabilidade e o desenho é de Jonathan Glapion – dois arte-finalistas a quem o Todd McFarlane deu toda a sua confiança. Tendo há muito uma paixão pela escrita, agora estou a concretizá-la em No Home Here. Claro que estou muito entusiasmado e ansioso pela sua publicação.
FPLC: Ouvi dizer que o que é um pesadelo para qualquer arte-finalista é o paraíso para si. Ou seja, finalizar a arte muito detalhada de um Bryan Hitch dá muito mais trabalho, mas também muito mais prazer. E quem diz Bryan Hitch, diria no passado um George Pérez ou no presente um Geof Darrow. É verdade?
DH: [Quando ouve o nome de Geof Darrow, Daniel arregala os olhos e lança um sopro…] Geoff Darrow…! [risada] Desde o princípio, fui logo catalogado assim – como aquele que gosta dos trabalhos mais detalhados. E até é verdade. Gosto do pormenor. Há arte-finalistas que são apelidados de “tracers” ou seja, os que se limitam a passar a tinta por cima do traço. E há aqueles que, de algum modo, utilizam um processo criativo para arte-finalizar. Gosto de pensar que esse é o meu caso. Por exemplo, em Ronin: Book II, finalizei a arte de Philip Tan nos três primeiros números. Mas para o número 4, recebi apenas os layouts de Frank Miller que não tinham grande finalização. Por isso, tive mesmo de desenhar boa parte das páginas, para além de arte-finalizar. E desde o primeiro número, sou eu que dou os meios-tons na arte a preto e branco.
FPLC: Como foi trabalhar com o lendário Frank Miller?
DH: Foi espectacular. Como já disse, pôs-me sempre à vontade e dá-me grande margem de manobra. Foi sempre impecável e deu-me grande prazer trabalhar com ele, aprender e ganhar com os seus conhecimentos e a sua experiência. Foi mesmo uma experiência única.
FPLC: Daniel, foi um prazer estar com um dos primeiros argumentistas portugueses a assinar uma série norte-americana e com alguém que, por mérito próprio, trabalha com Miller e McFarlane.
DH: Obrigado! [replica com humildade e algum embaraço]
Seguiu-se a segunda fotografia cara-a-cara que planeei tirar com todos os autores das entrevistas 1 to 1. Mais uma prova de fogo, de longos segundos, olhos nos olhos.
Mais uma “missão” do Bandas Desenhadas bem-sucedida.
Amante da literatura em geral, apaixonado pela BD desde a infância, a sua vida adulta passa-a toda rodeado de livros como editor. Outra das suas grandes paixões é o cinema e a sua DVDteca.