Entrevista a Frank Cho: o Painel na Comic Con Portugal 2024

Entrevista a Frank Cho: o Painel na Comic Con Portugal 2024

Entrevista a Frank Cho: o Painel na Comic Con Portugal 2024

Entrevista a Frank Cho: o Painel na Comic Con Portugal 2024 – “Anatomia de um Crime”.

Paralelamente ao painel conjunto de Frank Cho e Mike Grell na Comic Con Portugal 2024, intitulado “Heróis da Marvel e da DC”, que teve lugar no dia 22 de março, às 17h00, no The One Theatre, com moderação de Nuno Pereira de Sousa, o Francisco Pedro Lyon de Castro moderou um painel no dia 24 de março, às 17h00, no Corporate Stage, inteiramente dedicado a Frank Cho, intitulado “Anatomia de um Crime”. Para os que não puderam estar presentes, apresentamos a Entrevista a Frank Cho: o Painel na Comic Con Portugal 2024 – “Anatomia de um Crime”.

Nunca perco um novo livro desenhado por Frank Cho, mesmo que se insira numa série que não seja das que coleciono. O seu cuidado com a anatomia humana sempre me impressionou, bem como as suas composições de cenas, que parecem sempre muito cinematográficas.

Assim, tal como me ofereci para moderar um painel com Stan Sakai (ver Entrevista a Stan Sakai: o Painel na Comic Con Portugal 2024), fiz o mesmo com Frank Cho.

Embora este seja um autor envolvido em várias polémicas, tentei aligeirar a abordagem a essas questões, até porque já tinham sido minuciosamente abordadas pelo Nuno Pereira de Sousa no painel que moderou com o autor e com Mike Grell.

O painel de Frank Cho na Comic Con Portugal 2024, que intitulei de “Anatomia de Um Crime”, teve lugar no dia 24 de Março, às 17h00, no The Corporate Stage, com moderação de Francisco Pedro Lyon de Castro, eu próprio.

A plateia estava composta. E assim que o autor chegou, iniciou-se o painel. Não houve tempo para qualquer conversa prévia até porque o Frank Cho estava num contra-relógio – tinha uma sessão de autógrafos logo de seguida. Limitou-se a perguntar “Isto é para onde? Respondi-lhe “É para a Comic Con e para o melhor blogue do mundo, o Bandas Desenhadas!” Olhou para mim de soslaio, sorri e começámos.

Francisco Pedro Lyon de Castro: Bem-vindo! É um prazer tê-lo aqui na Comic Con e em Portugal. De modo a podermos conhecer um pouco melhor o homem que é hoje, diga-me, por favor, como é que conseguiu arranjar forças para começar a desenhar durante a sua infância “dura”?
Frank Cho: Na verdade, desenhar ajudou-me muito. Lembro-me de sempre ter desenhado. E isso distraia-me e motivava-me. Copiava, vezes sem fim, os meus heróis favoritos das revistas que o meu irmão me trazia, e cheguei a fazer pequenas histórias para a família. Mas, à medida que os anos passavam, os meus pais não achavam grande piada à minha veia artística e “obrigaram-me” a enveredar por um curso “sério”.

FPLC: Pois! Mais tarde, graduou-se em enfermagem. Acha que, de algum modo, a enfermagem influenciou a sua obra?
FC: [expressão de estranheza] Não, de modo algum! Detestei enfermagem! Só queria fugir daquilo.

FPLC: Foi então que começou a sua carreira como artista. University², Penthouse Comix e Liberty Meadows. Como é que as três estão relacionadas?
FC: Bom, University² e Liberty Meadows estão, em certa medida relacionadas. University² era uma tira diária que eu desenhava para The Diamondback, o jornal estudantil da Universidade de Maryland. Era a história de um grupo de animais de laboratório que acabam na universidade. Na verdade, é uma espécie de percursor de Liberty Meadows e, de um para o outro, pode ver-se bem a evolução do tipo de humor. Aliás, muitos dos personagens principais acabaram por entrar em Liberty Meadows. E també é visível a evolução do desenho… felizmente… [risada]

Entrevista a Frank Cho: o Painel na Comic Con Portugal 2024

FPLC: Acha que “The Body” irá algum dia ser publicada?
FC: Mas, como é que o Francisco descobre estas coisas? Na verdade, The Body foi o meu primeiro trabalho profissional. Foi no último ano da faculdade. Fui convidado pela Penthouse Comix para fazer histórias curtas. Eu, o Al Gross e o Mark Wheatley inventámos uma história de ficção científica em seis partes, centrada na figura de Katy Windon, uma mercadora intergaláctica que faz negócios com as raças alienígenas que vai encontrando durante as suas viagens pela galáxia. Felizmente, nunca foi publicada! Eu estava a começar no mundo dos comics e o meu estilo ainda não era o melhor. Isso e o facto da história ser um pouco [muito] ousada.

FPLC: Durante o tempo em que fez Liberty Meadows, foi vítima de censura pela primeira vez – mas não pela última vez. Como é que lida com a censura?
FC: Não muito bem, como é natural. Com Liberty Meadows, eu tinha assinado um contracto de 15 anos com a Creators Syndicate. Mas só cumpri cinco anos desse contracto. Cansei-me da censura feita pelo meu editor e das nossas discussões. Ora, não estou nos comics para discutir, mas para criar. Por isso, fui-me embora.

FPLC: Depois, começou a trabalhar para a Marvel. Fez o Homem-Aranha, os Vingadores, o Hulk, os X-Men e vários outros. Qual era o seu herói favorito e qual o que preferia desenhar?
FC: O meu favorito sempre foi o Homem-Aranha e é também o que prefiro desenhar, para além de Wolverine e de Shanna the She-Devil. A Marvel surgiu na minha vida profissional enquanto eu ainda desenhava Liberty Meadows, mas em forma de livro e sem censura. Para a Marvel, comecei por desenhar capas e depois alguns números do Homem-Aranha. E depois surgiu Shanna the She-Devil, que também me deu grande prazer desenhar.

FPLC: Precisamente! Em Shanna the She-Devil e em Savage Wolverine, o Frank mostra-nos o pico da sua arte em duas coisas: mulheres e dinossauros. São eles que prefere desenhar?
FC: [risada e pausa] São! São o que prefiro desenhar. A princípio, a Marvel deu-me uma grande liberdade criativa com Shanna. Foi uma mini-série em sete partes, publicada em 2005. Eu reinventei a personagem, que era agora resultado de uma experiência nazi e capaz de matar dinossauros só com as mãos. Inicialmente, a Marvel permitiu que a Shanna aparecesse, por vezes, nua, sem censura. Mas depois, quando eu já tinha desenhado os cinco primeiros episódios, fez-me censurar todos os nus. Depois, em 2013, escrevi e desenhei Savage Wolverine, na qual também entra Shanna the She-Devil e muitos dinossauros [sorriso].

FPLC: Após Totally Awesome Hulk, deixou a Marvel e começou a trabalhar para a DC onde foi novamente alvo de censura puritana. A censura é boa para si?
FC: [risada] Parece que sim! O que sei é que triplicou as visitas no meu website, aumentou a atenção dos organizadores e participantes em convenções como esta em que estamos, e também aumentou a oferta de novos trabalhos. Quanto à DC e à polémica com as minhas capas da Mulher-Maravilha, quando o Greg Rucka [argumentista da série] começou a fazer pressão [leia-se censura] para que eu mudasse a minha maneira de representar a Mulher-Maravilha, como não estava para discussões, abandonei o projecto.

FPLC: Depois disso, criou Skybourne para a Boom! Studios e World of Payne para a Flesk Publications, ambas séries de 2016. E em 2022 surgiu a série Fight Girls para a editora AWA. Para além disso, tem feito capas extraordinárias para várias editoras, sendo que as últimas que vi pertencem à série The Savage Red Sonja e são deste mês de Março. Indubitavelmente, o Frank é um mestre em anatomia – talvez uma herança dos seus dias no curso de enfermagem [risada]. [Frank olha para mim com um ar de poucos amigos]. E apesar da censura, continua a desenhar a melhor das artes. Agora, esta é a minha pergunta final: não acha que é um crime para todos nós não termos mais séries de Frank Cho?
FC: [Frank fixa-me com o seu olhar sério] Acho! [é a sua derradeira resposta e aquela em que o seu rosto descontrai e se alumia, divertido]

FPLC: Obrigado, Frank. Foi um prazer estar aqui consigo.

Antes de ir a correr para uma sessão de autógrafos, Frank ainda teve tempo de responder a umas quantas questões colocadas pelos espectadores.

E encerrou-se assim a minha participação na Comic Con Portugal 2024. Venha a próxima!

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