Presas Fáceis 2 – Policial duro; realidade ainda mais dura!

Presas Fáceis 2 – Policial duro; realidade ainda mais dura!

Presas Fáceis 2 – Policial duro

Presas Fáceis 2 – Policial duro; realidade ainda mais dura! A análise de Presas Fáceis – Abutres, de Miguelanxo Prado.

Presas Fáceis! Somos todos presas fáceis num mundo altamente globalizado. E na selva urbana em que vivemos, somos todos potenciais presas dos abutres… e das hienas.

E quanto mais pequenos formos, quanto mais isolados estivermos, melhor para os predadores.

No momento fulcral em que a Humanidade se encontra, no qual as redes sociais criam tantas vezes a ilusão da segurança e de que não estamos sós, a ilusão de que pertencemos a grupos, neste momento, dizia, cada um nunca esteve tão isolado e tão à mão de um enganador “like” de afagar egos.

De certa maneira, é este o tema principal de Presas fáceis – Abutres, o novo livro de Miguelanxo Prado que acaba de ser publicado pela Ala dos Livros (cf. sinopse e previews do lançamento nacional aqui).

O conhecido autor galego é um dos grandes criadores de Banda Desenhada da actualidade e talvez um dos mais queridos dos leitores portugueses.

No seu palmarés, conta com mais de 15 obras publicadas em Portugal, onde se pode destacar as Crónicas Incongruentes, Manancial da Noite, Traço de Giz e os mais recentes Pacto da Letargia e Amani – este último, a primeira incursão do autor no mundo da literatura infantil).

Ora, Presas Fáceis – Abutres não tem nada de literatura infantil. Antes pelo contrário. É um policial muito, muito negro (não confundir com “noir”) e social. E nele vamos assistir a mais uma investigação da inspectora Olga Tabares e do seu apoderado, o inspector Carlos Sotillo. Um caso que o vai revoltar, caro leitor. Que o vai pôr a pensar. Que o vai angustiar, tal como angustiou o autor, como nos confidenciou na apresentação da obra na Feira do Livro de Lisboa.

Está preparado? Então…

Vamos à história!

Outubro de 2016.

Carla e Irina são duas jovens de 15 anos. De regresso a casa, saídas do liceu, Carla interroga a amiga acerca de esta estar tão diferente do habitual – mais sorumbática, alheada, sempre com aspecto cansado. Irina começa por se desculpar com os exames, mas logo confessa que anda a sentir-se estranha, como se estivesse a dar em maluca. Para além disso, sente estar a esquecer-se de coisas importantes, coisas graves que parecem ser apagadas da sua memória. Carla diz-lhe que não deve ser nada e tenta confortá-la. Entretanto, Irina recebe uma mensagem no seu telemóvel, uma mensagem estranha e anónima que parece estar a chantageá-la com fotografias ousadas.

Presas Fáceis 2 – Policial duro

Fevereiro de 2017, terça-feira, dia 2.

A inspectora Olga Tabares e o seu colega Carlos Sotillo são chamados para uma ocorrência. Os pais de Irina, combalidos e atordoados, prestam-lhes declarações enquanto a filha, no quarto ao lado, jaz na cama, fria e sem vida.

Tiveram de arrombar a porta, pois a filha não respondia. Andavam preocupados com ela, que há muito tempo estava ausente e taciturna. Mas nunca pensaram que o comportamento de Irina tivesse este desfecho. Ainda para mais, não deixou nenhum bilhete. De resto, estranhamente, o seu telemóvel e o portátil pareciam ter desaparecido.

Presas Fáceis 2 – Policial duro

À saída, dão de caras com Carla que os informa que Irina andava estranha, paranóica e obcecada com o tema da amnésia. “Achava que fazia coisas sem dar por isso, como se estivesse inconsciente”. Na noite anterior, estavam a estudar em casa da Carla e Irina saiu de rompante, esquecendo-se do seu tablet. E Carla acaba por o entregar aos dois inspectores.

Depois, Olga e Sotillo vão ao liceu de Irina e interrogam a professora Andrea. Dava-lhe aulas há três anos e tinha uma relação muito boa com Irina. Não acredita que a rapariga se suicidasse. Mas acrescenta que nos últimos tempos andava a perguntar-lhe coisas estranhas, como a possibilidade de uma pessoa ser hipnotizada através da internet.

Olga Tabares e Carlos Sotillo entreolham-se. Talvez aquele não fosse apenas um caso de suicídio…

Presas Fáceis 2 – Policial duro

Passaram oito anos desde que Miguelanxo Prado lançou Presas Fáceis – Hienas. Agora oferece-nos Presas Fáceis – Abutres, um policial que tem novamente Olga Tabares e Carlos Sotillo como protagonistas.

Alguns leitores até o poderão considerar um policial noir, embora não siga os cânones deste subgénero.

Na verdade, Abutres é um policial que consegue descer às catacumbas mais sórdidas da alma humana (ou da falta dela). E ao fazê-lo, toca em temas centrais da actualidade, duros, cruéis e angustiantes (extorsão sexual, pornografia juvenil, pedofilia, droga, mau uso das redes sociais).

O argumento de Prado é altamente realista e plausível, de tal modo que o autor sentiu-se desconfortável ao longo dos dois anos que demorou a realizar a obra.

A estrutura narrativa faz-nos acompanhar, paulatinamente, a investigação levada a cabo pela inspectora Olga Tabares e pelo seu subinspector Carlos Sotillo. E a narrativa corre, numa primeira fase, ao longo de 14 dias. Aqui, o leitor assiste, passo a passo, à investigação que se vai apresentando com o dia do mês e o dia da semana, servindo estes como artifício literário de criação de tensão – mais uma pista, um revés na investigação, novos suspeitos – até à aparente conclusão do caso.

Presas Fáceis 2 – Policial duro
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