Comic Con Portugal 2016: a nossa reflexão

Comic Con Portugal 2016: a nossa reflexão

Em 2016, pela primeira vez, a Comic Con Portugal teve direito a 4 dias. Este acréscimo de dias contribuiu certamente para o maior número de visitas verificado este ano, o qual ficou a 19 visitas das 73000.

Apesar do maior número global de visitas, sábado continuou, tal como nas edições anteriores, a ser o dia mais concorrido e com maiores filas para as diferentes atividades. O tempo de espera nas filas de entrada diminuiu consideravelmente, graças a um novo sistema de acesso.

Um dos maiores problemas da concentração de visitantes é, tal como nos anos anteriores, a débil rede de telemóvel, algo que seria importante ser revisto. Tal gera problemas de comunicação entre os visitantes. Os pagamentos efetuados por multibanco funcionaram quase sempre sem qualquer problema, apesar de nem todos os stands terem esta opção. De qualquer modo, é sempre uma boa opção ser portador de dinheiro, pois são poucos os locais para levantá-lo e, dependendo do dia e hora, podem obrigar a esperas.

Das novidades deste ano, destaca-se a introdução na Comic Con Portugal do tema Música na Cultura Pop, através do painel “A influência da Música na Cultura Pop”, no Auditório B, com a presença de Zé Ricardo, o diretor artístico do Rock in Rio, com a Orquestra Filarmónica das Beiras, dirigida pelo maestro António Vassalo, a ilustrar musicalmente momentos-chave da apresentação. Elogia-se a originalidade da proposta, bem como a execução dos temas pela orquestra. E interrogamo-nos como prosseguirá a abordagem da Música nas próximas edições.

Outra novidade foi a CITY – Conventions in the Yard realizar a edição de um livro de banda desenhada. Tal colmatou duas lacunas que temos vindo a apresentar na análise de anos anteriores: não só a edição de produtos de banda desenhada pela própria Comic Con, como a maioria dos autores espanhóis convidados terem obra publicada no nosso país.

Se desde a Comic Con Portugal 2014, se tem verificado a presença de novas propostas de banda desenhada, inicialmente reservadas à edição independente com distribuição alternativa (leia-se Artists’ Alley), aos poucos as editoras que operam no mercado livreiro ou nos pontos de venda de periódicos têm começado a apostar no lançamento de obras no evento. Este ano, tal coube à G. Floy e à Devir, tendo esta última realizado inclusivamente uma edição com capa alternativa para o evento.

Paralelamente, a IN Edições, chancela da Zero a Oito, lançou um livro com 5 bandas desenhadas de autores portugueses com o tema alusivo à própria Comic Con, fazendo deste modo a ligação com a estreia da sua presença no evento.

Infelizmente, este ano o número de stands dedicados à banda desenhada era menor que o ano passado, não nos esquecendo que alguns dos que comercializam banda desenhada dedicam a maior parte do seu espaço ao merchandise, campeão de vendas deste tipo de eventos.

Compete à organização repensar como pode tornar o evento atrativo para os editores de banda desenhada, de modo a que um dos seus eixos fundadores permaneça forte também na oferta dos expositores.

Como vem sendo habitual, vários autores estiveram presentes a realizar autógrafos e dialogar com os leitores nos stands, mas continua a ser inexistente ou parca a informação/divulgação sobre estas atividades levadas a cabo por editores e livreiros.

No que toca aos painéis, foi com agrado que vimos alguns regressarem ao confortável e devidamente insonorizado Auditório B, tal como na primeira edição. Pelo contrário, outros painéis continuaram a ter lugar no auditório improvisado dedicado a Comics & Literatura. A não presença física de Brian Michael Bendis foi, de algum modo, colmatada pela presença do mesmo em teleconferência.

Continuamos a manter a opinião de que é necessário um olhar muito mais atento ao mercado editorial para equacionar a escolha de autores a convidar para a Comic Con. Do mesmo modo, é necessário um olhar mais atento ao panorama nacional, de modo a ser ainda mais representativo da boa banda desenhada de autores portugueses.

O Artists’ Alley estava melhor localizado do que nos anos anteriores, dado se encontrar no mesmo pavilhão dos expositores. No entanto, o local reservado ao mesmo era no sentido contrário ao do fluxo de visitantes entre os pavilhões, havendo quem não o descobrisse.

A alegrar e colorir o evento, os cosplayers tornaram a afirmar que é uma atividade para todas as idades, a solo, em grupo de amigos ou enquanto programa familiar.

Da área do cinema, os painéis dedicados ao Harry Potter foram uma surpresa agradável e interessante, tendo os atores, apesar do vasto auditório, conseguido produzir um ambiente intimista.

Eis algumas fotos (clique para aumentar):

E termina-se com os dados e imagens oficiais da organização do evento:
• 60 mil metros quadrados;
• 72 981 visitas (ao invés das 53 962 em 2015 e das 32500 em 2014);
• 216 convidados de várias nacionalidades;
• 103 painéis;
• 43 horas de convenção.

E fazemos nossas as palavras da audiência de Bendis, quando foi convidada a subir ao palco e enviar-lhe uma mensagem especial: see you next year!

8 comentários em “Comic Con Portugal 2016: a nossa reflexão

  1. Acho que a organização já faz tudo pelas editoras sinceramente… Permite-lhes que não tenham multibanco, que não passem fatura, que os artistas vão aos seus stands assinar os livros… Não vejo como mais se possa incentivar as vendas. Agora, quem semeia ventos, colhe tempestades. Quando não se aproveita os autores é muito difícil: a Levoir tem os direitos de uma minisérie do Namor do Esad Ribic. Não a lançou porquê? O próprio autor se manifestou várias vezes revoltado com isso a alguns visitantes. O melhor que a Devir tinha para oferecer era uma capa amarela… Claro que lhes sobrou milhares de exemplares. Quando uma pessoa quer comprar diretamente às editoras mas encontra os mesmos livros muito mais baratos cá fora nas livrarias… Só se for estúpido.

    1. A Levoir / G-Floy tem umas políticas um pouco “nós é que sabemos o que é melhor para você, comprador das nossas obras”. A Levoir podia ter os direitos, mas como a equipa de produção é a mesma da G-Floy parece-me a mim que optaram por pegar num trabalho que já tinham feito há 10 anos (Loki) e meter-lhe capa dura. A Levoir meteu-se numa cavalgada bem grande de nome Sandman e seria algo absolutamente herculeo tentarem lançar o livro do Namor “em cima do joelho” na Comic Con. Se o Ribic se queixou é porque devem ter se esquecido de avisar o autor que uma editora tinha lá o “seu” Loki, o que me parece ser um grave problema de comunicação entre a organização da Comic Con e a editora visada. Por outro lado acho que a maior falha foi mesmo todas as editoras terem ignorado o Alex Maleev. A G-Floy apostou todos os seus “ovos” na “cesta” Bendis e atiraram-se de cabeça para o Alias, quando podiam ter apostado em algo que o Bendis tivesse criado com o Maleev (tanta coisa, desde uma bd de HALO a Spider Woman, passando pelo magistral – ainda que demorado – SCARLET) o que lhes teria permitido “salvar a honra do convento” com o cancelamento do Bendis (é engraçado que o autor justificou a sua não vinda a Portugal com um problema no passaporte dos filhos e passado uma semana lá está ele com a “ranchada” em Londres a anunciar tal efeméride nas suas redes sociais).

      Enfim, a Comic Con definitivamente é um evento para cultura POP e não para Banda Desenhada por isso acho todos estes percalços normais. Se queremos Banda Desenhada a 100% é ir a Beja onde se respira, bebe, come Nona Arte. Quando todos os stands de venda se “envergonham” de vender BD é capaz de ser boa ideia mudar o nome do evento de Comic para Pop. ‘Nuff said true believers.

      1. Na verdade, tirando o caso da Devir que produziu uma capa diferente para a sua edição do paper Girls, as outras editoras não devem sentir que compense o esforço. No caso da Gfloy posso dizer o seguinte: nenhum livro é programado por o autor estar ou não estar presente no Comic Con. NENHUM. NUNCA iremos editar um livro porque o autor vem ao Comic Con (ou à Amadora ou onde quer que seja). Não são os 50 ou 100 livros que se possam lá vender que vão compensar editar um livro só porque lá está um autor. No caso do Loki, é um livro inédito na Polónia, que a GFloy decidiu editar LÁ e que nós cá decidimos acompanhar: é um bom livro, a Devir esgotou-o há muitos anos, a nossa edição tem extras, não vimos porque não deveríamos programá-lo. Foi programado ainda antes de se saber que o Ribic vinha a Portugal (claro que quando soubemos que ele vinha, trabalhámos para poder ter o livro no Comic Con). Foi o nosso best-seller no Comic Con, vendeu 53 exemplares. Não é propriamente nenhuma loucura. O Alias estamos a editá-lo sem pensar em evento nenhum, foi uma série decidida em Janeiro, MUITO antes de se saber que o Bendis poderia vir.

      2. Relativamente à organização e o que ela faz pelos autores: ela disponibiliza um espaço, alugado por blocos de 3 metros quadrados (não é barato) e tenta trabalhar com as editoras para que as coisas corram pelo melhor (e trabalham muito e são muito solícitos). Cada um mete o que quer nesse espaço e não existe nenhuma obrigação. A GFloy tinha multibanco e passa facturas (embora os clientes tenham de esperar 2 dias que elas sejam feitas e enviadas).

        A organização não permite que os seus convidados assinem nos stands das editoras. É ao contrário: permite que os convidados das editoras também tenham sessões de autógrafos na zona oficial. Para que o autor esteja NO STAND, os custos têm de ser pagos pela editora, ou em conjunto pela organização e a editora. este ano a GFloy não conseguiu que viesse NENHUM dos autores que a organização tinha concordado em co-financiar. Outros autores que poderíamos ter convidado não interessavam à organização em termos de comparticipação nos custos e nós sentimos que os custos não compensavam o convite (e não nos enganámos, dado que as vendas este ano foram inferiores ás do ano passado).

        Existem outros pontos que são relevantes: o Comic Con é no porto, isso implica custos muito maiores de entregas e levantamentos, para quem está em Lisboa, implica muitas noites de hotel e viagens, a acrescer ao custo de um stand que, já agora, duas vezes mais caro que o da Amadora.

      3. Finalmente: as editoras têm os direitos dos livros cujos direitos compra. Ou seja,para editar um Namor era preciso ir fazer um contrato e pagá-lo. Claro que a maioria dos fãs acham que é só telefonar para a Panini e pedir para escreverem um contrato e mandarem e editar o livro. A verdade é que, raramente se conseguem comprar direitos para menos do que X livros duma vez (pelo menos 5), a negociação leva semanas, é preciso adiantar o dinheiro e além disso encomendar os ficheiros de imagem (algumas semanas de espera) e pagá-los. Ou seja, não é possível chegar a uma certa data e dizer “ah, ‘bora lá fazer um livro de fulano que vai estar no Comic Con” assim sem mais. P.ex. a GFloy anda há OITO meses a negociar para editar alguns títulos da Marvel. É impossível programar um livro para um festival só porque o autor lá vai. É ao contrário, se se programou um livro para aquela altura, trabalha-se para lançar a tempo do festival e tenta-se trazer o autor.

        Na GFloy não fazemos programas editoriais a pensar se um autor vem ou não ao nosso país. É bom que ele venha, pode dar um certo impacto mediático, mas os livros extra que se venderem grosso modo servem para pagar o investimento de trazer o autor. Mas o livro terá de se vender sem isso para ter sucesso. Pelo menos é o caso da GFloy (e presumo que de outras editoras) que não trabalha com tiragens de 500 ou 600, mas sim de 1500-2000.

        1. https://4.bp.blogspot.com/-IzgkEkyak4Y/WFAEYZLp5VI/AAAAAAAAlJA/voc3JmJaSbsk3d5DChLKWK4JCYIg0whpQCEw/s1600/IMG_20161209_193528.jpg

          Ainda bem que me dizem que era proibido os autores irem assinar aos stands, assim já sei que sonhei com esta fotografia…

          Eu nunca disse que valia a pena editar um livro só para vender naqueles dias. Disse que era preciso aproveitar os autores: como você referiu o Loki foi o bestseller, e nunca venderia tanto se o Esad não estivesse lá. Há pessoas que o compraram só para terem algo para assinar. Agora a minha pergunta é esses 58 livros foram todos faturados José? É que a resposta ou é não e então não há certeza se foram 53 porque não há registo ou a resposta é sim e o senhor está a mentir porque eu assisti a algumas vendas e não foi sequer emitido recibo… Provavelmente não quer responder e faz bem. O clima da comic con, até dentro da organização é muito cool, em nenhuma das actividades é emitida fatura. Eles não publicam os valores precisamente para ninguém ter bem a certeza do que é que está a falar. Somos infelizmente um país pouco exigente, eu só alertei que isto um dia acaba. Para concluir, você sabe melhor que ninguém que 50 livros, arredondados para cima, a entrar líquidos ali, valem bem mais que 200 ou 300 vendidos nas livrarias, que era onde a maior parte daquelas pessoas o iria comprar se o autor não estivesse presente, a 80 por cento do valor bruto. Não atire areia para os olhos.

Deixa um comentário