Blake e Mortimer: O Vale dos Imortais I

Blake e Mortimer: O Vale dos Imortais I

Como é tradição, o novo álbum de Blake e Mortimer é publicado pela Asa com duas capas distintas, uma delas exclusiva da Fnac.

A conhecida série de banda desenhada franco-belga Blake e Mortimer foi lançada em 1946 nas páginas do hebdomadário belga Le Journal de Tintin, criação de Edgar P. Jacobs. Este seu trabalho, responsável pela sua fama, encontra bastantes paralelos no seu one-shot de ficção científica, O Raio U, publicado no hebdomadário Bravo em 1942, o qual, por sua vez, tinha nascido com base no Flash Gordon de Alex Raymond. Na verdade, quando a BD norte-americana Flash Gordon foi interdita pela ocupação alemã em 1942, foi dada a Jacobs a responsabilidade da terminar como desejasse, de modo a não deixar os leitores insatisfeitos. É neste contexto que surge O Raio U, a sua primeira banda desenhada, seguindo o mesmo género de aventura e ficção científica.

Para além de Raymond, uma influência evidente na obra de Jacobs é Hergé, com quem chega a colaborar em algumas bandas desenhadas de Tintin. É com base nessa amizade e fruto desse trabalho que a primeira BD de Blake e Mortimer, O Segredo do Espadão, estreia no primeiro número de Le Journal de Tintin, acompanhado de pranchas de 3 outras bandas desenhadas (a 14.ª BD de Tintin, O Templo do Sol, de Hergé; a estreia da série Corentin de Paul Couvelier; e uma adaptação para BD da canção de gesta do ciclo carolíngio da literatura medieval francesa Os Filhos Aymon, por Jacques Laudy).

Setenta e dois anos depois, a série continua a ser um sucesso editorial, estando traduzida em 17 línguas e tendo as vendas ultrapassado os 15 milhões de exemplares. Se hoje a série é composta por várias equipas criativas que tentam assegurar a publicação periódica de álbuns de Blake e Mortimer, o final da mesma por Jacobs pronunciava uma direção completamente diferente. A última BD escrita e desenhada por Jacobs foi a primeira parte de As 3 Fórmulas do Professor Sato, publicada entre 1971 e 1972 no Le Journal de Tintin e em álbum em 1977. Desmotivado, não prossegue o trabalho, deixando a obra inacabada em 1987, aquando do seu falecimento. Dois anos depois, a filial editorial da Dargaud que publica a obra de Jacobs, Éditions Blake et Mortimer, confia a Bob de Moors a conclusão da obra, com base no argumento e lápis de Jacobs, a qual é publicada em 1990.

Contra a vontade de Jacobs em prosseguir a série, a editora relança a série em 1996 com O Caso Francis Blake, o 13.º da série, da autoria de Jean Van Hamme e Ted Benoit, o qual vende mais de 600000 exemplares. Os álbuns seguintes atingem números superiores a 200000 exemplares vendidos. Com este sucesso editorial, não é de admirar que prossigam As Aventuras de Blake e Mortimer, já sendo superior o número de álbuns da série não desenhados nem escritos pelo seu criador.

O primeiro tomo de O Vale dos Imortais conta com o argumento do belga Yves Sente, o autor com mais álbuns escritos da fase de relançamento, sendo este o seu oitavo álbum. Quanto aos desenhos, couberam aos holandeses Teun Berserik e Peter Van Dongen, que se estreiam na série. Passando-se a série original cronologicamente entre 1946 e 1967, os álbuns seguintes têm vindo a ser ambientados entre aqueles que constituem a série original (com a excepção da prequela O Bastão de Licurgo). Neste caso, O Vale dos Imortais situa-se em 1946, após os acontecimentos de O Segredo do Espadão, a banda desenhada de estreia da série.

Narrativa e graficamente, esta nova banda desenhada assemelha-se, de forma anacrónica, a O Segredo do Espadão, sendo tal notório nas planificações, enquadramentos, verborreicas caixas de texto e, obviamente, nos desenhos à la Jacobs, podendo um leitor desprevenido acreditar que se trata de uma banda desenhada realizada há sete décadas. Se isto pode parecer um contrassenso editorial, com base nas preferências atuais dos leitores de BD, a série tem provado, contra todos os maus augúrios, que é uma fórmula de sucesso.

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Eis a sinopse da editora:

Em Lhassa, o Palácio Imperial do ditador Basam-Damdu é pulverizado por um esquadrão de Espadões e o mundo, aliviado, celebra o final da Terceira Guerra Mundial. Entretanto, na vizinha China, enquanto os comunistas de Mao enfrentam os nacionalistas de Chiang Kai-shek, o Senhor da Guerra Xi-Li tenta apoderar-se de um manuscrito que lhe irá permitir garantir o seu poder sobre o Império do Meio. Face às ameaças que pairam sobre a região, o capitão Francis Blake é incumbido de organizar a defesa da colónia britânica de Hong Kong. Por seu turno, em Londres, o professor Philip Mortimer manifesta grande interesse por uma curiosidade arqueológica chinesa, suscitando a cobiça e a inveja de alguns. Ao mesmo tempo, o famoso coronel Olrik, ex-conselheiro militar de Basam-Damdu, aproveita o caos reinante para vender os seus serviços ao general Xi-Li, numa tentativa de aplacar a sua sede de vingança. Primeiro tomo de um díptico, O Vale dos Imortais começa exatamente onde tinha acabado O Segredo do Espadão. Os fãs de Blake e Mortimer encontrarão alguns dos ingredientes que contribuíram para o sucesso da saga de Edgar P. Jacobs: a grande aventura, o exotismo, aqui expresso pelas ruelas perigosas de Hong Kong, a atmosfera londrina digna das mais belas páginas de A Marca Amarela e a ficção científica, encarnada pelo novo engenho concebido pelo professor Mortimer, o Skylantern, tudo isto acompanhado por algumas figuras de traidores e por um Olrik mais maquiavélico do que nunca.

Yves Sente
Argumentista (n. 1964)
Yves Sente nasceu em Bruxelas, em 1964. Ainda em pequeno, lê avidamente A Marca Amarela, que ele considera a obra-prima de Jacobs. De resto, as aventuras de Blake e Mortimer vão marcar o seu destino. Em 1998, numa altura em que dirige as Éditions du Lombard, mergulha com o desenhador André Juillard no argumento de A Conspiração Voronov, um episódio inédito das Aventuras de Blake e Mortimer que se desenrola em plena guerra fria e que foi alvo de votação pela crítica e pelo público. Yves Sente cria então Os Sarcófagos do 6º Continente, onde revela a juventude do Professor Mortimer. Mais tarde confirma o seu talento como argumentista, assinando La Vengeance du Comte Skarbek e retomando Thorgal, com Rosinski. Inicia em seguida a série Janitor, com François Boucq, antes de regressar a Blake e Mortimer com O Santuário de Gondwana, uma história passada no coração de África. Em 2011 concretiza um outro projeto: retomar as aventuras de XIII com Iouri Jigounov. Em 2012, Yves Sente leva Blake e Mortimer a Inglaterra para O Juramento dos Cinco Lords; em 2014 recua no tempo e relata a primeira aventura conjunta dos dois heróis em O Bastão de Licurgo; depois, em 2016, coloca-os no centro de uma história em torno do mais célebre dramaturgo britânico de todos os tempos: William Shakespeare; e agora, em 2018, assina mais uma aventura da dupla de heróis britânicos mais célebre da BD, desta feita nos confins da Ásia.

Teun Berserik
Desenhador
Nascido no seio de uma família de artistas nos Países Baixos, Teun Berserik demorou algum tempo a enveredar pelo mundo artístico. Com efeito, foi só depois de ter gerido durante doze anos uma oficina especializada em carros anteriores a 1940 que a musa do desenho lhe bateu por fim à porta. Em resultado disso, para além de ilustrações para manuais escolares de várias disciplinas (biologia, história…), bem como alguns trabalhos de publicidade e desenhos animados, Teun Berserik executa atualmente bandas desenhadas (por vezes didáticas) para crianças, adolescentes e adultos. O seu romance gráfico dedicado aos primeiros anos de Van Gogh (intitulado justamente Vincent Van Gogh e publicado em 2012) recebeu em 2013 o Prémio para o Melhor Romance Gráfico da Het Stripschap (Associação de Banda Desenhada dos Países Baixos). Desde 2000 que se dedica à pintura, tendoparticipado em diversas exposições tanto como membro do Pulchri Studio como do Haagse Kunstkring.

Peter Van Dongen
Desenhador (n. 1966)
Autor de banda desenhada e ilustrador, Peter Van Dongen viu o prémio neerlandês de BD Stripschap ser sucessivamente atribuído ao seu primeiro álbum Muizentheater (Teatro de Ratos), publicado em 1990, e à sua banda desenhada em dois volumes Rampokan, lançada em 1998 e 2004. Esta última – que o tornou conhecido internacionalmente – desenrola-se durante a guerra da independência da Indonésia, em 1946, e tem como herói o militar holandês Johan Knevel, que regressa ao país da sua infância para aí encontrar um mundo em vias de desaparecimento. O díptico Rampokan, traduzido em francês, alemão, indonésio e inglês, foi distinguido com vários prémios, entre os quais o Prix du Lion em 1999, em Bruxelas. Em 2013, a pedido da marca de roupa Gant International, Van Dongen desenha o álbum Drie dagen in Rio (Três Dias no Rio), que narra a infância do fundador da marca, Lennart Björk. Em março de 2018, Van Dongen recebeu o Prémio Stripschap pelo conjunto da sua obra.

As Aventuras de Blake e Mortimer 25: O Vale dos Imortais – Tomo 1
Yves Sente, Teun Berserik e Peter Van Dongen
Editora: Asa
Páginas: 64
Dimensões: 16 x 23,6 cm
Encadernação: capa dura
ISBN 9789892343266 | 9789892343273 (Fnac)
PVP: € 15,90

One thought on “Blake e Mortimer: O Vale dos Imortais I

  1. “Vale dos Imortais” segue o legado de Jacobs, inteligente e com trama bem articulada. Mas o que faz Capitão Haddock em um sujo bar do Porto de Hong Kong?
    Ricky Machry

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