Vazio

Vazio

Em conjunto com Capital de Afonso Cruz, a editora Pato Lógico publicou Vazio de Catarina Sobral, atingindo deste modo o número de 4 obras inseridas na série  Imagens que Contam (tendo-me também já referido aos anteriores Bestial de André da Loba e Sombras de Marta Monteiro, lançados o ano passado) .

Clique nas imagens para as visualizar em toda a sua extensão e com dimensões mais generosas:

Como é mandatório nesta coleção, o título é composto por uma única palavra, o logótipo da editora foi reinventado e a história é contada sem palavras ao longo das 32 páginas.

O nome de Catarina Sobral não será estranho aos leitores deste espaço. A sua obra Achimpa (Orfeu Negro) foi galardoada com o Prémio de Melhor Ilustração de Livro Infantil nos Prémios Nacionais de Banda Desenhada 2013, promovidos pelo Amadora BD 2013, conferindo o direito de constar na nossa listagem de recomendações relativas a uma bedeteca ideal, a qual contém também uma secção dedicada aos livros ilustrados.

Em Achimpa, a palavra e a demanda do seu significado é o cerne da obra, o que acrescenta um certo grau de curiosidade para verificarmos como Catarina Sobral planificou a narrativa gráfica Vazio, sem recurso a esse componente da linguagem humana. O que nos resta quando, num livro, a linguagem escrita está ausente? O vazio?

Para responder a essa questão, não será necessário orientar os leitores destas linhas para uma viagem à origem da arte, citando exemplos que precederam a linguagem escrita (e seria suficiente mencionar a arte rupestre para não ter de proceder ao desenvolvimento de um texto mais denso). Mas prefiro organizar uma viagem de características mais pessoais – cada um de nós teve um relacionamento com uns certos objectos denominados de livros numa fase pré-alfabetizada, os quais certamente comunicaram connosco a diferentes níveis.

A nossa relação com a restante comunidade é parcialmente realizada através da linguagem. No entanto, a interação que realizamos diariamente no nosso nicho ecológico é muito mais abrangente. E tudo aquilo que é externo ao nosso ser tem o potencial de nos moldar enquanto pessoas…

E… se nos sentirmos vazios? Sem nada para dar… Indiferentes àquilo que nos acontece no quotidiano… E se procurarmos ajuda médica para tal, sem que a mesma consiga realizar um diagnóstico ou propor uma terapêutica? E se não nos conseguirmos preencher apesar das nossas tentativas, seja através da comunhão com a natureza, o convívio com os animais, a exposição à intempérie, a visita a museus ou galerias de arte (evoque-se, por analogia, a personagem Francisco Koppens da obra The Dying Draughtsman / O Desenhador Defunto de Francisco Sousa Lobo) ou a leitura de livros? Encontramo-nos sozinhos, sem percebermos porque nos sentimos vazios, num dia-a-dia em que as experiências vividas têm a mesma duração da degustação de um alimento…

No entanto, num percurso oposto ao proposto por Afonso Cruz em Capital, o final deste livro contém uma dose de esperança. Agradeçam à autora! Livro altamente recomendado às cigarras e às formigas…

notas: as imagens foram gentilmente cedidas pela editora as quais se agradecem e ilustram o texto.

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